segunda-feira, 30 de junho de 2008

NOVELA: MITO E PRECONCEITO

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Muito do desenrolar da trama de uma novela é decidido pelas reações do público captadas por pesquisas qualitativas ou pela sensibilidade do autor, mas aparentemente a novela A FAVORITA retoma o tema explorado em SENHORA DO DESTINO: A amorosa mãe adotiva revela-se bandida enquanto a mãe biológica prova-se boa. A filha é separada muito nova de sua progenitora, mas ao reencontrá-la é tomada de amor — embora, inicialmente, possa não identificar seu sentimento. Já a perversa e ardilosa mãe adotiva faz de tudo para impedir esse amor que triunfará ao final. E para reforçar o caráter preconceituoso do enredo, a mãe biológica é chamada de “mãe verdadeira” o que, por oposição, deixa a outra no papel de “mãe de mentira”.
Tratar o amor filial como um vínculo genético da criança com quem a gerou é sedutor, mas está totalmente errado. Na realidade, o amor filial é um mecanismo de sobrevivência da espécie humana que se manifesta como uma predisposição para amar a mãe que alimente e proteja.
Além de ser incapaz de fazer os filhos amarem os pais, o vínculo genético também não garante o amor dos pais pelos filhos. Veja esse extrato da pág. 54 do livro “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena”: “Conheço uma moça que foi inseminada com material genético de um banco de esperma norte-americano e teve uma filhinha. A menina é uma gracinha. Ainda assim, duvido que o doador do sêmen, que nem sabe que tem uma filha no Brasil, a ame.”

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

NOSSA NATUREZA ANIMAL

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Entrei no quarto de meu filho de 9 anos e me sentei a seu lado para assistirmos juntos um pouco de tevê. Em um documentário sobre vida animal ouvi que “um leão copula em média 3.000 vezes para cada filho que chega vivo a 1 ano de idade.”
Esse número “astronômico” de atos sexuais para cada filho sobrevivente reforça o argumento evolucionista que usei em “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena” (pág. 15) para explicar porque nossos sentimentos podem se mostrar inadequados à vida moderna: “O processo evolutivo é extremamente lento. Embora o mundo moderno tenha passado por muitas transformações, gostemos ou não, os sentimentos humanos continuam pré-históricos. É o caso de nosso desejo sexual, exagerado para uma espécie cujos indivíduos têm, em média, apenas dois filhos ao longo de suas vidas, mas adequado para que a taxa de natalidade do mundo primitivo superasse a mortalidade infantil da época.”

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

A SÓS, PARA SEMPRE

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É o título de reportagem da Veja desta semana que nos conta que “como ocorre em países ricos, muitos casais brasileiros decidem pela vida sem filhos.” O artigo fala do ônus, inclusive financeiro, que os filhos acarretam e acrescenta depoimentos do tipo: “decidi não trazer esses problemas para minha vida”.
Por outro lado, em meu livro “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena” lê-se, à página 53: “assim como a atração entre corpos celestes é regida por leis físicas, a atração entre os sexos obedece a leis biológicas. Uma delas diz que amor e desejo existem para perpetuar a espécie. Lei óbvia, mas de grave conseqüência: quando os filhos não vêm, o amor do casal enfraquece ou morre para libertar os cônjuges da união estéril. Não interessa se por infertilidade ou escolha, não reproduzir é um atentado à preservação da espécie. Por isso é comum as relações sem filhos não resistirem ao tempo.”
A natureza dos casais em idade fértil quer filhos e tem poderosas ferramentas para consegui-los: com o tempo, os jovens mudam de idéia ou se descuidam e engravidam; ou, finalmente, o amor deles enfraquece para que possam encontrar parceiros com quem queiram ter filhos. Se o darwinismo está correto, seria melhor afirmar: A SÓS, POR ENQUANTO.

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