sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CRÍTICA (EVOLUTIVA) DA CRÍTICA

Em O Globo de ontem Cora Rónai comenta o caso Tiger Woods em diálogo (hipotético?) com a mãe:

Ele não ganha dinheiro para dar bom exemplo, mas para jogar golfe.

Ledo engano, quem lhe paga milhões de dólares em prêmios e publicidade são os patrocinadores que querem associar seus produtos a uma boa imagem. Ao patrocinador pouco importa como a celebridade desperta a atenção dos consumidores, se com golfe, tênis, canto ou dança; importa que se identifique com o ideal do público-alvo.

Esse festival de hipocrisia é nojento! Vai dizer que ninguém naquele país risca fósforo fora da caixa?! O coitado do Bill Clinton também passou por isso, com a agravante de que diziam que não era pelo sexo, mas pela mentira.

E foi pela mentira. O político, para se eleger, aparece em campanha de mãos dadas com a esposa, acompanhado das filhas com a saia abaixo dos joelhos, indo à igreja, etc. Quando o povo fica sabendo que o presidente bonitão assediava* a estagiária gordinha, é natural que muitos fiquem indignados.

Faz parte dos mecanismos instintivos de sobrevivência da espécie humana indignar-se com o logro. Se o sujeito compra um quilo de feijão e lhe entregam novecentos gramas ele se aborrece com a má-fé, não pelo prejuízo de alguns centavos.

* O assédio se caracteriza pela disparidade de poder. E, no caso, que disparidade!

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

FILHAS ELEGANTES DE MÃES TROGLODITAS

A Veja desta semana noticia a onda Suri Cruise que assola o mundo: imitar a filha de Tom Cruise que é dona de imenso guarda-roupa com maquiagem, roupas, bolsas e sapatos de grife. A revista dá exemplos brasileiros, inclusive o da menina de 2 anos que já têm “dez novos pares de sapatos para o inverno que ainda nem começou.” Tal aberração tem explicação.

O ser humano humano é um macaco que, surpreendido pela mudança climática que transformou seu habitat de selva abundante em savana, sobreviveu porque conseguiu se adaptar à escassez. Perdeu os pêlos (veja postagem de 8/2/2010) e se tornou ávido consumidor, tudo de útil era recolhido: comido se fosse alimento ou guardado como peles de animais e pedras lascadas que serviam de vestuário ou ferramenta.

A civilização trouxe-nos abundância e também freios aos impulsos animais. Temos alimento e apetite de sobra, mas nos contemos por saber que o excesso é prejudicial à saúde. Existe à nossa disposição uma infinidade de itens coletáveis como roupas e sapatos, mas resistimos por entender que o dia de amanhã, nos tempos atuais, se garante com poupança e investimento e não acumulando utilidades cotidianas.

O ser humano moderno são dois, um civilizado e outro animal, quando um prepondera somos comedidos, quando é o outro, obesos ou consumistas.

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

INTERNET E CARNAVAL

Nos últimos anos, a Internet e outros que-tais eletrônicos têm propiciado às pessoas prescindirem do contato humano para um número crescente de atividades como se informar, se comunicar, se divertir, trabalhar, fazer compras e operações bancárias, etc. E o carnaval de rua no Rio de Janeiro cresce explosivamente.

Haverá alguma correlação de causa e efeito? Diz-se que a toda ação corresponde uma reação. Será a adesão maciça aos blocos carnavalescos, não apenas aqui, uma reação à crescente frieza das relações humanas em tempos eletrônicos?

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

POR QUE OS HUMANOS SÃO PELADOS?

É a pergunta da reportagem de capa da Scientific American deste mês. Se todos os primatas e a maioria dos mamíferos são naturalmente vestidos com um couro peludo, por que nós teríamos dispensado tal proteção?

Beneficiados pela abundância de água e alimento vegetal que a mata provê, os primatas são essencialmente herbívoros e sedentários. Há três milhões de anos um esfriamento global reduziu o regime de chuvas da África Ocidental e Central até transformar a floresta na atual savana. As espécies de primatas locais foram extintas, menos uma que se adaptou às longas caminhadas em busca de água e comida: a homo.

Os músculos em exercício produzem calor que tem que ser dissipado. A espécie homo adaptou-se ao novo ambiente alterando seu sistema de refrigeração corpórea para agüentar estafantes caminhadas. E o sistema ficou tão bom que, segundo a revista, num dia quente, o homem venceria o cavalo numa maratona.

Nosso cabelo fica oleoso, se não for lavado, porque o couro peludo (cabeludo) dos mamíferos é resfriado por uma mistura de glândulas que produzem óleo e água, com predominância das oleaginosas. Nos humanos, a pele perdeu pêlos e a proporção das glândulas sudoríferas mudou, tornando o suor aquoso.

Quanto mais evaporação, mais calor é dissipado. E, evidentemente, a água na pele lisa evapora muito mais facilmente que o óleo entre pêlos.

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