sexta-feira, 23 de julho de 2010

FOME ANIMAL!

Flávio Franklin

Pensamos levar nossos dois filhos, 11 e 15 anos, para um giro cultural pela Europa. Como eles não demonstraram o menor interesse por “estudar” durante as férias, fizemos um safári fotográfico na reserva Kapama, no norte da África do Sul. Foi emocionante estar num jipe aberto e ver passar leões, rinocerontes, elefantes e búfalos a metros de distância.

Eu, além de tudo, gostei de ver de perto a base das leis darwinistas. Na reserva, onde passeando de jipe encontrávamos veadinhos, zebras e gnús as dezenas, conhecemos uma família de leões que não conseguia caçar um animal sequer há seis dias. Se, na natureza, até o rei dos animais passa fome, fica fácil imaginar porque o homem primitivo desenvolveu a gula que, no mundo moderno, repleto de supermercados e restaurantes, nos faz gordos.

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sábado, 3 de julho de 2010

A DERROTA NA COPA

A beleza do esporte está em ser modelo para a vida. Seu grande mérito é o desfecho rápido. Enquanto as decisões na vida real ― casar-se, estudar, iniciar um empreendimento, etc ― podem demorar décadas para se mostrarem corretas, no esporte basta esperar o final da competição. Imitando a realidade, os esportes são fortemente sujeitos ao acaso, principalmente os de escore baixo como o futebol. Ora uma pessoa de hábitos saudáveis se descobre com câncer, ora um goleiro fenomenal falha interrompendo uma série de acertos que parecia interminável.

Acostumado com as virtudes “boazinhas” da modernidade ― generosidade, gratidão, etc ― chocou-me ler que as maiores virtudes na Grécia clássica eram: o nascimento nobre, a beleza e o triunfo. Depois, refleti melhor. Já reparou como filho de rico é “naturalmente” rico e filho de artista é “naturalmente” artista? A maior virtude deles é ser filhos de quem são. Para conferir o valor da beleza basta folhear uma revista ao acaso, mas de todas, a maior virtude continua sendo o triunfo.

Depois da boa vitória sobre o Chile, temendo o sucesso de Dunga, a crônica esportiva mudou radicalmente o discurso: a seleção passou a ter defesa “impecável” e ataque “letal”. Veio a eliminação e o discurso voltou a mudar: Dunga teria feito tudo errado. Mas o Mundial tem meia dúzia de candidatos ao título, de forma que, qualquer equipe sob consideração tem menos chances de ser campeã que as outras cinco. Ou seja, a probabilidade de uma favorita ser campeã é sempre menor que a soma das probabilidades das outras cinco equipes. No momento em que escrevo a Argentina que apostou todas as suas fichas no talento dos muitos atacantes, ao contrário da equipe de Dunga que priorizou o equilíbrio entre ataque e defesa, está sendo goleada pela Alemanha.

Minha opinião: O Dunga fez um trabalho excepcional, montou uma das equipes mais fortes da competição, teve chances reais de vitória, mas, infelizmente para nós, uma das outras cinco candidatas vai levar o título. Qual? É cedo para afirmar. Quem poderia prever que o Uruguai, que se classificou na repescagem, chegaria à semifinal.

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