Acreditava-se que a identidade de uma pessoa era
determinada, basicamente, por fatores genéticos e comportamentais. Por
exemplo, filhos de pais altos seriam altos e de pais virtuosos, virtuosos. As
exceções eram explicadas também por fatores genéticos e comportamentais, podia
acontecer da criança herdar a altura de uma bisavó baixinha ou ser desencaminhada
por más companhias. Por fim, vírus e bactérias causavam apenas doenças. Agora,
o papel dos microrganismos está sendo revisto: se alguns são patogênicos, outros
são essenciais.
A diferença genética entre duas pessoas quaisquer não chega a 1%, mas suas colônias micro bióticas podem diferir em até 30%. Além de diversificados, numerosos: o corpo humano abriga 10 micróbios para cada célula
própria. A ciência moderna deixou de pensar o corpo humano como uma máquina orgânica
e suas peças (cérebro, coração, etc.) para pensá-lo como um complexo ecossistema
de cujo equilíbrio ecológico depende nossa vida.
Por exemplo, o ser humano ─ assim como outros mamíferos ─ não tem
os genes necessários para processar carboidratos complexos. Felizmente, a
maioria de nós está contaminada pelo Bacteroide
thetaiotaomicron. Os carboidratos complexos dos vegetais que comemos são
digeridos por esse micróbio e nós nos alimentamos de seus dejetos (suas fezes), que são fragmentos dos carboidratos originais.
Em 2005, pesquisadores da Washington
University reportaram que, para alcançarem o mesmo peso, ratos criados em
ambiente estéril precisavam comer 30% mais alimentos que os contaminados com o B. thetaiotaomicron.
Já a bactéria H. pylori desempenha
função importante no mecanismo de percepção da saciedade. Cientistas acreditam
que parte do aumento da obesidade infantil nos EUA se deve ao uso
indiscriminado de antibióticos para combater dor de ouvido que estaria
exterminando essa bactéria do organismo das crianças.
Pesquisadores também investigam se ao nascer de parto normal a
criança é contaminada pela mãe com uma infinidade de microrganismos benéficos, o
que não aconteceria no ambiente asséptico da cesariana. Por isso, o parto normal,
como o aleitamento materno, seria mais saudável para o bebê.
Os estudos sobre microrganismos benéficos estão apenas
começando. Deve demorar para que se traduzam em práticas saudáveis (como o
consumo de iogurtes com lactobacilos vivos que auxiliam no trato intestinal).
Fonte: Matéria de capa da Scientific Americam de Junho de 2012.
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