quarta-feira, 22 de setembro de 2010

LULA É ELEITORALMENTE IMBATÍVEL?

Ontem ouvi de uma amiga petista que os escândalos de (suposta) corrupção recém descobertos na Casa Civil da Presidência da República não importam porque corrupção, sempre houve. O que leva o cidadão a votar na situação ou na oposição é a maior ou menor sensação de bem-estar econômico. Boa resposta!

A inteligência humana é capaz de investigar o passado e projetar o futuro. A sorte de Lula é que, enquanto a razão viaja no tempo, a sensação de bem-estar que determina o voto do eleitor é dominada pelo presente.

Lula, perspicaz, manteve a política econômica “neo-liberal” de FHC, que vinha dando certo, e se absteve de conduzir reformas benéficas ao futuro ― política, trabalhista ou previdenciária ― que pudessem diminuir a sensação imediata de bem-estar na população.

Com a economia mundial favorável, o país cresceu bem menos que outras nações emergentes, mas, todavia, cresceu. O eleitor sentiu a melhora e aprovou.

De espetacular na economia brasileira apenas a produção de alimentos e a extração mineral. Elas sustentam a balança comercial e enchem os cofres públicos de impostos. Mérito de Lula? Não. Mérito do governo militar, criador da EMBRAPA, cujas pesquisas transformaram a terra não agriculturável do cerrado brasileiro em celeiro do mundo. Mérito das privatizações de FHC, em particular, da Vale, que cresceu de forma inimaginável depois de privatizada. Por ironia da política, criar a EMBRAPA não trouxe reconhecimento popular aos militares e privatizar estatais foi um desastre eleitoral para os tucanos.

Lula colhe frutos que os governos anteriores plantaram, sem lhes dar o devido crédito e com a desfaçatez de chamar de “maldita” a herança que sustenta o atual governo e sua popularidade pessoal.

Concluo que o presidente é, de fato, praticamente, imbatível.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

INSATISFAÇÃO CRÔNICA

Mulheres próximas leram O Mundo Pós-Aniversário de Lionel Shriver. Ouvi seus comentários e li trechos do livro. Mulher casada sente-se atraída por um homem sedutor. Em seguida, a narração subdivide-se: numa alternativa ela cede à tentação de viver com o “homem encantador”, na outra resiste e continua casada com o “homem bom”.

― E o que as mulheres preferem: que seus homens sejam bons ou encantadores? ― Perguntam à protagonista depois que a ficção lhe permitiu viver simultaneamente as duas experiências.

― Ah, não importa com qual deles fique, a mulher se pergunta se não estaria melhor com o outro.

O dilema não é privilégio das mulheres. Esposos fiéis também sonham com vagabundas enquanto conquistadores de ocasião desejam mulheres direitas.

Homens e mulheres nunca estão plenamente satisfeitos com o que têm porque quanto mais numerosos e variados forem seus descendentes, mais profícua será a seleção natural darwinista.

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