O jornal O Globo noticiou
a ocorrência de protestos nas ruas e na Internet em resposta a divulgação da pesquisa
do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em que 65% dos entrevistados
concordam, em alguma medida, que a mulher que deixa o corpo a mostra “merece”
ser estuprada.
A
respeito dos 58,5% que concordam que “se
as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”, Ancelmo Gois,
colunista de O Globo, reportou: “Antenado,
o novelista Manoel Carlos escreveu uma cena em que Virgílio (Humberto Martins)
e Helena (Julia Lemmertz) leem a notícia sobre essa pesquisa e se mostram
indignados.”
Os
protestos são mais do que justos, pois ninguém “merece” ser estuprado, em hipótese
alguma. Porém, não concordo com a indignação contra os que acreditam que o
comportamento prudente possa diminuir a incidência de crimes.
Raciocinemos:
Das pessoas que avistam um cão solto
em via pública, quais correriam mais riscos, as que mudam de trajeto e tomam
distância prudente ou as que não se desviam? A proximidade aumento o risco de ataque.
Reconhecer o fato não atenta contra o direito à livre circulação das pessoas,
nem diminui a responsabilidade civil e criminal do dono do cachorro.
Será
que alguém, em sã consciência, discorda?
Analogamente,
a mulher que se utiliza de roupas ou atitudes provocantes em situações
inseguras se expõe a uma probabilidade maior de estupro. Identificar o
risco maior que as incautas correm não lhes nega o direito de usar a roupa que quiserem,
nem atenua o crime do estuprador.
Não podemos
nos iludir com o brilho radiante do verniz civilizatório, pois, abaixo dessa fina
camada, o ser humano continua sendo um animal violento.
Será
que alguém, em sã consciência, discorda?
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