sábado, 29 de março de 2014

ESTUPRO: CORRER MAIS OU MENOS RISCOS

O jornal O Globo noticiou a ocorrência de protestos nas ruas e na Internet em resposta a divulgação da pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em que 65% dos entrevistados concordam, em alguma medida, que a mulher que deixa o corpo a mostra “merece” ser estuprada.

A respeito dos 58,5% que concordam que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”, Ancelmo Gois, colunista de O Globo, reportou: “Antenado, o novelista Manoel Carlos escreveu uma cena em que Virgílio (Humberto Martins) e Helena (Julia Lemmertz) leem a notícia sobre essa pesquisa e se mostram indignados.”

Os protestos são mais do que justos, pois ninguém “merece” ser estuprado, em hipótese alguma. Porém, não concordo com a indignação contra os que acreditam que o comportamento prudente possa diminuir a incidência de crimes.

Raciocinemos:

Das pessoas que avistam um cão solto em via pública, quais correriam mais riscos, as que mudam de trajeto e tomam distância prudente ou as que não se desviam? A proximidade aumento o risco de ataque. Reconhecer o fato não atenta contra o direito à livre circulação das pessoas, nem diminui a responsabilidade civil e criminal do dono do cachorro.

Será que alguém, em sã consciência, discorda?

Analogamente, a mulher que se utiliza de roupas ou atitudes provocantes em situações inseguras se expõe a uma probabilidade maior de estupro. Identificar o risco maior que as incautas correm não lhes nega o direito de usar a roupa que quiserem, nem atenua o crime do estuprador.

Não podemos nos iludir com o brilho radiante do verniz civilizatório, pois, abaixo dessa fina camada, o ser humano continua sendo um animal violento.

Será que alguém, em sã consciência, discorda?

Foto:  ©  | Dreamstime.com

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