terça-feira, 16 de junho de 2009

É MAIS CÔMODO SER INFELIZ

© Ruediger Baun | Dreamstime.com
Se dá trabalho ser feliz, é mais cômodo ser infeliz. Óbvio! Para quem gosta de viajar, por exemplo, o que é mais cômodo, fazer malas, enfrentar aeroportos, dormir em camas estranhas, se comunicar em língua estrangeira ou ficar em casa refestelado no sofá assistindo tevê? Para quem gosta de jogar futebol também dá mais trabalho organizar o evento e jogar do que, simplesmente, dormir até mais tarde.
Vejamos outra situação hipotética, agora de comodidade emocional, não física. Não é cômodo para a celebridade, que já foi sexy, aos sessenta e tantos anos, aceitar que os jovens a vêem apenas como uma simpática vovó. Avó bem vestida, bem cuidada, plastificada, alourada, maquiada, mas avó. É cômodo confundir a atração da popularidade com desejo. Para provar-se ainda sexy ela conquista um jovem ambicioso interessado em sua fama e fortuna que a faz infeliz. O caso termina em tragédia, mas ela sobrevive. Para não suportar o incômodo de admitir que envelheceu, é capaz de repetir a experiência e continuar infeliz. Como vi no twitter de alguém: “sucesso é conseguir o que se quer, felicidade é gostar do que conseguiu.”

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segunda-feira, 15 de junho de 2009

VIOLÊNCIA NO FUTEBOL

Dia 12 de Junho foi aniversário de minha mãe. Feriadão, viajei com mulher e filhos ao interior de SP para festejá-la. No dia seguinte, sábado, meu garoto de 10 anos pediu para irmos ao jogo Guarani x Vasco em Campinas. Como recentemente morreu um torcedor no confronto Corinthians x Vasco, havia um rigoroso esquema de segurança: ruas do entorno do estádio fechadas ao trânsito, bilheterias e entradas exclusivas para cada torcida, policiamento ostensivo, etc.

Não é espantoso que um jogo de futebol possa levar multidões ao delírio ou à depressão, causar brigas e até mortes entre torcedores que nada têm a ganhar ou perder, mas que se emocionam como se suas vidas dependessem daquela disputa?

A resposta mais uma vez está na formação de nossos instintos de preservação da espécie, na pré-história, época em que precisávamos de grandes extensões de terra para caçar e coletar. Quando o alimento se tornava escasso numa região, tribos vizinhas guerreavam pela sobrevivência, cada qual cobiçando anexar o território alheio. Somente os guerreiros se enfrentavam, mas o destino da tribo era único: expulsão ou morte na derrota; mais terras e alimentos na vitória.

Essa situação se reproduz nas modernas competições esportivas: somente os jogadores profissionais se enfrentam, mas as respectivas torcidas se sentem comprometidas com o resultado. Até a nomenclatura é a mesma; se antes tínhamos as nações indígenas, hoje temos as “nações” flamenguista, corintiana, etc.

Quando ocorre violência nos estádios, os jornais costumam dizer que os torcedores se portaram “como selvagens”. Existe uma verdade profunda nessa aparente figura de linguagem. Em dias de jogo, ser torcedor de um time é pertencer a uma tribo em guerra. Instintivamente, o sujeito se sente sob ameaça de morte, tomado por forte tensão emocional.

Se por um lado esse estado de ânimo faz o esporte ser tão eletrizante, por outro leva o torcedor às raias da violência. E para agravar o quadro, essa conjunção atrai índoles agressivas interessadas em utilizar o ambiente excitado como estímulo e pretexto para o vandalismo.

Texto em itálico reproduzido das páginas 169 e 170 de “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena”.

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segunda-feira, 8 de junho de 2009

A ANGÚSTIA DO HOMEM (Parte Final)

Terminei assim a última postagem sobre a angústia do homem atual: O homem não se angustia por perder o papel de provedor ou de aventureiro, como supôs o psicanalista, ele se angustia com a perda da dominância. Quando a mulher prepondera no casal ― porque ganha mais ou por outra razão qualquer ― o homem fica infeliz e seu desejo por ela diminui. Por quê? Que fazer?

Antes de responder, vamos nos reportar à Pré-História, palco de imensa mortalidade infatil. O homem que não cuidasse com mão de ferro da fidelidade sexual da companheira corria sério risco de que seus filhos sobreviventes não fossem biologicamente seus. Sem descendentes, seus genes morrem consigo, inclusive os de liberalidade com o comportamento sexual da mulher. A prolongada repetição deste fenômeno de Seleção Natural fez (quase?) se extinguir a aceitação do homem à infidelidade sexual feminina.

O livro “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena”, ao explicar uma das muitas qualidades sedutoras da mulher, responde às perguntas propostas:

A submissão é outra “fraqueza” sedutora na mulher. Também sinaliza fidelidade. A mulher que alardeia que faz o que quer aparentemente também transa com quem quer. E isso é ameaçador demais para o homem que procura (ou tem) uma companheira.
Esse aspecto da feminilidade é realmente complexo. A mulher tem que ser segura na vida profissional, autoconfiante nas mais diversas situações e, ao mesmo tempo, submissa ao homem de seu interesse. Difícil, mas nem tanto.
É notório que as mulheres têm mais competência emocional do que os homens. Muitas delas, seguras dessa superioridade, conseguem administrar uma aparente submissão sem comprometer sua paz de espírito: cedem, sem pudor, quando têm que ceder; “abrem mão” do que não lhes interessa como se abdicassem de algo valioso, e quando têm de fazer o homem ceder fazem-no com tal habilidade que ele se sente orgulhoso da própria generosidade.
O grande dilema da mulher atual é que seus sentimentos, de natureza arcaica, valorizam o homem dominante; mas sua ideologia moderna não admite ser dominada.

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sexta-feira, 5 de junho de 2009

SUA FILHA NÃO TELEFONA?

© Inga Urievna | Dreamstime.com
Artigo da Scientific American on-line de hoje reporta uma pesquisa inimaginável: pesquisadores da Universidade Estadual da Califórnia investigaram a correlação entre o ciclo menstrual das filhas e as ligações de celular que fazem para os pais!!!

É sabido que o índice de mortalidade infantil e de malformação congênita é bem maior em filhos gerados por pais com fortes laços consangüíneos. Mas a natureza é sábia, por exemplo, ao atingir a idade reprodutiva, tanto nos macacos bonobos quanto nos chipanzés, os machos permanecem em seu grupo natal enquanto as fêmeas migram para outros grupos o que evita, naturalmente, o acasalamento pai-filha e irmão-irmã.

Investigando se entre os humanos haveria um natural distanciamento entre pais e filhas durante o período fértil, os pesquisadores compararam o ciclo menstrual de 51 filhas jovens com as contas telefônicas detalhadas de seus celulares. Concluíram que durante os períodos férteis as filhas ligam mais freqüentemente e mais demoradamente para as mães que para os pais, o que denotaria um certo esfriamento nas relações pai-filha quando estas estão aptas a conceber.

Acredito que o estudo seja mais criterioso que o artigo: mulheres falam mais entre si do que falam com homens, aposto que fora do período fértil mãe e filha também se falam mais. Significativo seria verificar o comportamento das chamadas entre pai e filha ao longo do ciclo menstrual, para ver se realmente diminuem no período fértil.

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

A ANGÚSTIA DO HOMEM

© Carlos Santa Maria | Dreamstime.com

Li na revista Veja desta semana a entrevista de um psicanalista sobre a angústia do homem contemporâneo. Ele especula sobre Darwin, mas demonstra total incompreensão do darwinismo. Atribui a angustia masculina à dificuldade de manter os papéis de provedor e aventureiro, que seria uma herança cultural do século XIX. Afirma que “não existe um homem que consiga ter uma vida sexual sem que ela seja organizada por fantasias” e acrescenta que “isso é muito difícil de ser entendido pelas mulheres”. Que tolice!

De acordo com o darwinismo, a sexualidade e o sentimento humanos se formaram na Pré-História juntamente com a própria espécie e, portanto, não são herdados de comportamentos do século XIX. E fantasias são apenas acessórias ao sexo, até parece que o homem precisa elaborá-las para sentir desejo por uma mulher atraente.

No reino animal, salvo raríssimas exceções, o sexo fisicamente mais forte domina, como a hiena-fêmea, o leão e o homem. O homem não se angustia por perder o papel de provedor ou de aventureiro, como supôs o psicanalista, ele se angustia com a perda da dominância. Quando a mulher prepondera no casal ― porque ganha mais ou por outra razão qualquer ― o homem fica infeliz e seu desejo por ela diminui.

Por quê? Que fazer? (continua na próxima semana)

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