quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CAMUNDONGO CANORO

Muito interessante essa pesquisa japonesa: em vez de fazer experimentos genéticos em busca de alguma característica específica, os pesquisadores do Projeto de Evolução de Camundongos da Universidade de Osaka introduziram uma alteração genética que apenas aumenta a probabilidade de erro de cópia de DNA durante o processo reprodutivo. Erros absolutamente aleatórios, como na natureza. E não é que, dentre inúmeros insucessos reprodutivos por malformação genética, nasceu um camundongo com dotes vocais semelhantes aos das aves canoras!

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ESTÍMULO & PUNIÇÃO

Os seres vivos são movidos por estímulos e desestímulos que favorecem a sobrevivência da espécie. Assim é a lógica da seleção natural que permite a existência da vida . Embora nem sempre seja fácil identificar-se os propósitos de preservação da espécie nas atitudes humanas, certamente, nós também somos movidos por estímulos e desestímulos.

O que as famílias abastadas devem fazer para educar seus filhos?

Bater não, é politicamente incorreto e, depois da lei da palmada, ilegal. Proibir de sair? Ineficaz, jovens se encontram nos sites de relacionamento social. Inibir o uso do computador, da tevê, do videogame ou de qualquer divertimento específico? Dentre tantos a seu dispor, que diferença faz? Se é difícil punir o mal-feito, que tal estimular o bem-feito? Prometer trocar um equipamento eletrônico de penúltima geração pelo de última? Oferecer mais uma viagem para quem já viaja todas as férias? Seria suficiente para, por exemplo, motivar um filho indolente a estudar?

O jovem moderno não tem consciência do muito que lhe é dado, por mais que os pais tentem lhe mostrar. Seu bem-estar lhe parece absolutamente natural.

Conheço um pai, cujo filho abandonou o ensino médio, que tirou todo supérfluo do jovem. Dinheiro, nem mais um tostão. Cartão de crédito, nem pensar. Proibiu que se comprasse qualquer coisa para ele, inclusive roupas e calçados, enquanto tivesse o que usar por mais puído, gasto ou fora de moda que fosse. Comer, somente em casa. Os pontos de tevê por assinatura, de Internet e o ramal telefônico do quarto foram sumariamente cortados. Proibido de usar os carros da família e sem dinheiro para o transporte coletivo, para sair de casa, só a pé. O rapaz, tinhoso, aguentou seis longos meses nessa vida monástica antes de implorar para voltar ao colégio com juras de empenho absoluto.

É bom viver num mundo cada vez mais abundante, mas é preciso repensar estímulos e punições.

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domingo, 5 de dezembro de 2010

REVISITANDO O PASSADO

Fomos assistir ao musical Hair, sucesso da década de 1970 que fala de hippies. Há 40 anos era uma temática ousada, hoje está velha. Apesar da remontagem esmerada, minha mulher e eu não resistimos à vontade de ir embora no intervalo.

O tóxico da moda era o alucinógeno LSD, droga mística cujo barato era libertar as pessoas de suas mesquinhas realidades para que pudessem flutuar no espaço e ver e se comunicar livremente com o mundo metafísico imaginário.

O movimento hippie morreu, acredito que definitivamente. Os alucinógenos foram combatidos pelas autoridade e caíram em desuso recreativo e científico. Mas, recentemente, voltaram às pesquisas.

É sabido que experiências místicas podem suscitar mudanças duradouras nos indivíduos tornando-os mais benevolentes para consigo e com o próximo mais propensos a aceitar a vida como ela é. Alcoólatras, fumantes e outros consumidores compulsivos reportaram terem vencido seus vícios após serem profundamente afetados por uma experiência mística (genuína, sem drogas).

Agora os cientistas estão querendo descobrir se experiências místicas induzidas por alucinógenos teriam semelhante efeito. Os primeiros resultados não são definitivos, mas apontam nesse sentido. Pacientes terminais de câncer mostraram-se menos ansiosos e com melhor humor muitos meses depois da sessão em que lhes foi administrado um alucinógeno.

Essas pesquisas são especialmente promissoras porque, embora os alucinógenos possam ser usados abusivamente e colocar em risco a segurança do usuário, eles não são considerados drogas viciantes típicas, pois não induzem ao consumo compulsivo, nem causam síndrome de abstinência quando retirados. Ou seja, não causam dependência química.

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

DISCUTIR A RELAÇÃO, ELAS QUEREM, ELES NÃO

Elas dizem que sem diálogo não pode haver harmonia, eles que discutir a relação não é construtivo. Quem teria razão?

Finalmente aparece uma pesquisa científica sobre o assunto. A Universidade de Michigan acompanhou 373 casais ao longo de 16 anos e concluiu que fazer questão de ter a palavra final em uma briga e discutir coisas que já aconteceram há muito tempo são atitudes mais femininas do que masculinas, ao menos no início do casamento. Ou seja, na maioria dos casos, os homens têm razão: discutir a relação, como as mulheres querem, não é construtivo.

Segundo Kira Birditt, uma das autoras do estudo, os resultados mostram que ao longo do tempo as mulheres reduzem esse comportamento. Talvez por isso, o casamento que resiste aos primeiros anos, tende a ficar mais estável.


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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

DETESTO FUTEBOL!

Detestar futebol é um direito da mulher, mas, talvez, manter-se superficialmente informada não seja mau negócio.

Embora ainda sem resultados definitivos, estudos indicam que cresce o nível de testosterona do torcedor quando seu time ganha. Como é sabido, a testosterona aumenta a impetuosidade e o desejo sexual masculinos. Portanto, a mulher que não se informa sobre o placar da rodada ou nem sabe para que time torce o homem de seu interesse pode estar perdendo boas oportunidades para se aproximar.

Nada é certo nesta vida, pessoas que se cuidam nem sempre são longevas e alunos estudiosos também fracassam no vestibular. Mas não é porque muitas variáveis fogem ao nosso controle que vamos deixar de fazer o que está ao alcance.

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domingo, 14 de novembro de 2010

RESPOSTA BIZARRA À LONGEVIDADE

É sabido que as mulheres vivem mais que os homens. Acima de 100 anos são duas para cada um. No passado, tentou-se explicar o fenômeno afirmando que os homens se estressavam no trabalho enquanto as mulheres ficavam tranquilas em casa cuidando da família. Besteira! As mulheres se atiraram no mercado de trabalho acumulando encargos profissionais aos de dona de casa e continuaram mais longevas. Agora se diz que vivem mais porque se cuidam melhor.

Acatamos explicações comportamentais sem maiores questionamentos porque, se o problema decorre de nossas atitudes, é só mudá-las. No caso, bastaria ao homem alterar seus hábitos de saúde para tornar-se tão longevo quanto a mulher. Vale a pena. Mas, se a seleção natural fez a mulher biologicamente mais resistente porque seu papel na criação dos filhos é maior e sua sobrevivência é mais importante para a continuidade da espécie, o que o homem poderia fazer?

A resposta da ciência é bizarra demais. Os mesmos hormônios que tornam o macho mais forte que a fêmea, encurtam-lhe a vida. Como alguns donos de cães e gatos já perceberam, a vida média dos machos castrados é maior que a dos inteiros. Sem hormônios masculinos, eles vivem mais. Portanto, o homem que quiser uma longevidade mais feminina terá de mudar mais do que seu comportamento negligente com a saúde.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

O EXPERIMENTO DEMOCRÁTICO

Muitos dos “pais fundadores” da democracia americana eram cientistas. Eles não descobriram a ideologia ― o conjunto de crenças ― que levou os EEUA a se tornarem a nação mais desenvolvida do mundo, eles “apenas” adaptaram (deliberadamente) o método científico de coleta de dados, teste de hipóteses e formação da teoria à construção da nação americana. É este método que, hoje, denomina-se democracia liberal.

Um novo governo, como um laboratório científico, é projetado para acomodar uma série de experimentos, estendendo-os indefinidamente no futuro. Ninguém pode antecipar quais serão os resultados, assim o governo é estruturado não para guiar a sociedade para uma meta específica, mas para sustentar um processo (Achei genial! Quantos têm esta visão?). De tempos em tempos, se o povo achar que o experimento está dando certo, vota na situação, senão, vota na oposição para que ela conduza novos experimentos, que, igualmente, ninguém poderá antecipar que resultados terão.

Por exemplo, a crença do filósofo John Locke de que o povo deveria ser tratado igualmente perante a lei ― materializado na Constituição americana ― era um teoria não testada no Século XVII. Não testada e desacreditada: a maioria dos pensadores achava o povo estúpido demais para escolher seus governantes e até mesmo para ser tratado com dignidade.

Então, para este segundo turno das eleições presidenciais, procure enxergar o tipo de experimento que o governo atual está conduzindo: como lida com o gasto público, como preenche os cargos na administração pública e nas empresas estatais, como combate a corrupção, como combate a pobreza, como lida com movimentos sociais (MST, ONG, etc), como cuida da infra-estrutura do país (estradas, aeroportos, etc), como conduz reformas (trabalhista, previdenciária, política, etc); como trata o meio ambiente; que apreço tem pela verdade ou por outras qualidades morais que você julgue importantes; e assim por diante. Se achar que este experimento deva continuar, vote Dilma, senão, vote Serra. Mas não deixe de votar.

Baseado no artigo Democracy’s Laboratory de Michael Shermer, sobre idéias de Timothy Ferris, pág. 18, da Scientific American de setembro de 2010.

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A MELHOR FANTASIA


Dentre tantas fantasias, a mais acalentada é a “inconsequência”. Quer exemplos?

A atriz magrinha de dar inveja se diz glutona e chocólatra. Como se comer não tivesse consequências!

O nerd que passou em 1º lugar no vestibular declara que levava vida normal, namorava, frequentava festas, jogava futebol com os amigos, etc. Como se deixar de estudar também não tivesse consequências!

No filme “Juno” a adolescente de classe média engravida de seu melhor amigo. Para não sofrer as dores do aborto, nem os dissabores de criar o filho, leva a gravidez até o final e dá a criança em adoção. O filme termina com os jovens tocando violão, alegres e descontraídos. Como se gravidez, parto e filho fossem esquecidos sem sequelas emocionais.

No filme “As Pontes de Madson”, uma mulher de meia idade vive numa fazenda com marido e filhos. Ela gosta deles, gosta da segurança familiar, mas lhe falta aventura. Um dia, sua família viaja para uma feira pecuária. Ela fica. Aparece na região um fotógrafo para retratar as tais “pontes de Madson”. É um sujeito que já correu o mundo, bonitão, sensível e experiente. Vivem um romance. Depois, ele vai embora. A família retorna e a vida dela continua segura. Situação cuidadosamente construída para acalentar o sonho de uma aventura amorosa cuja única consequência fosse a deliciosa recordação.

Etc...

Já reparou que toda vez que diz "que se f.", apostando na inconsequência, quem "se f." é você?

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sábado, 2 de outubro de 2010

COM MEDO DE SER REJEITADO PELO ELEITOR? TOMA TYLENOL.

Por que é tão doloroso ser rejeitado? Porque, como sabemos, os sentimentos humanos foram criados por seleção natural durante a Pré-História, quando, ser abandonado à própria sorte nas savanas africanas era praticamente uma sentença de morte. No mundo contemporâneo, as rejeições geralmente têm consequências menos graves. Ainda assim, ser dispensado, preterido, recusado ou esquecido, dói.

A recente descoberta da neurociência de que tanto a dor física quanto a emocional são percebidas ― provocam estímulos elétricos ― na mesma região cerebral levou cientistas a pesquisar se remédios de uso geral contra a dor seriam eficazes contra o sofrimento emocional.

Sessenta e dois voluntários, tratados com paracetamol (Tylenol) ou placebo, participaram de um jogo de computador em que eram progressivamente excluídos. Imagens cerebrais revelaram que os indivíduos que tomaram paracetamol experimentaram sentimento de rejeição menos intenso.

Senhores candidatos, por favor, não confundam esta divulgação com prescrição médica, apesar do título jocoso.

Baseado no artigo Social Analgesic, pag. 12, da Scientific American de setembro de 2010.

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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

LULA É ELEITORALMENTE IMBATÍVEL?

Ontem ouvi de uma amiga petista que os escândalos de (suposta) corrupção recém descobertos na Casa Civil da Presidência da República não importam porque corrupção, sempre houve. O que leva o cidadão a votar na situação ou na oposição é a maior ou menor sensação de bem-estar econômico. Boa resposta!

A inteligência humana é capaz de investigar o passado e projetar o futuro. A sorte de Lula é que, enquanto a razão viaja no tempo, a sensação de bem-estar que determina o voto do eleitor é dominada pelo presente.

Lula, perspicaz, manteve a política econômica “neo-liberal” de FHC, que vinha dando certo, e se absteve de conduzir reformas benéficas ao futuro ― política, trabalhista ou previdenciária ― que pudessem diminuir a sensação imediata de bem-estar na população.

Com a economia mundial favorável, o país cresceu bem menos que outras nações emergentes, mas, todavia, cresceu. O eleitor sentiu a melhora e aprovou.

De espetacular na economia brasileira apenas a produção de alimentos e a extração mineral. Elas sustentam a balança comercial e enchem os cofres públicos de impostos. Mérito de Lula? Não. Mérito do governo militar, criador da EMBRAPA, cujas pesquisas transformaram a terra não agriculturável do cerrado brasileiro em celeiro do mundo. Mérito das privatizações de FHC, em particular, da Vale, que cresceu de forma inimaginável depois de privatizada. Por ironia da política, criar a EMBRAPA não trouxe reconhecimento popular aos militares e privatizar estatais foi um desastre eleitoral para os tucanos.

Lula colhe frutos que os governos anteriores plantaram, sem lhes dar o devido crédito e com a desfaçatez de chamar de “maldita” a herança que sustenta o atual governo e sua popularidade pessoal.

Concluo que o presidente é, de fato, praticamente, imbatível.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

INSATISFAÇÃO CRÔNICA

Mulheres próximas leram O Mundo Pós-Aniversário de Lionel Shriver. Ouvi seus comentários e li trechos do livro. Mulher casada sente-se atraída por um homem sedutor. Em seguida, a narração subdivide-se: numa alternativa ela cede à tentação de viver com o “homem encantador”, na outra resiste e continua casada com o “homem bom”.

― E o que as mulheres preferem: que seus homens sejam bons ou encantadores? ― Perguntam à protagonista depois que a ficção lhe permitiu viver simultaneamente as duas experiências.

― Ah, não importa com qual deles fique, a mulher se pergunta se não estaria melhor com o outro.

O dilema não é privilégio das mulheres. Esposos fiéis também sonham com vagabundas enquanto conquistadores de ocasião desejam mulheres direitas.

Homens e mulheres nunca estão plenamente satisfeitos com o que têm porque quanto mais numerosos e variados forem seus descendentes, mais profícua será a seleção natural darwinista.

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sábado, 21 de agosto de 2010

O RENASCER DO HOMO SAPIENS

Aníbal Azevedo Fº
Os seres humanos apresentam muito pouca diversidade genética comparado a outras espécies de menor população e distribuição geográfica. A melhor explicação para o fenômeno é nossa espécie ter sido quase completamente extinta recentemente. De fato, achados arqueológicos indicam que todos os seres humanos atuais, provavelmente, descendem de um pequeno grupo de sobreviventes do estágio glacial que durou até aproximadamente 123.000 anos atrás, conta-nos o arqueólogo Curtis W. Marean no artigo de capa da Scientific American deste mês.

O frio intenso desse estágio climático provocou aridez e desertificação exterminando pessoas e sua alimentação ― plantas e animais de clima temperado ― reduzindo a população humana de mais de 10.000 indivíduos para algumas centenas de sobreviventes: os habitantes da região do Cabo Floral na África do Sul, uma faixa litorânea de 90.000 km² que abrange a atual Cidade do Cabo e o Cabo da Boa Esperança. Lá fica a maior diversidade mundial de plantas com geófitos ― órgãos subterrâneos de armazenamento de energia como tubérculos e bulbos. Geófitos são uma importante fonte de alimento para caçadores-coletores. Os espécimes que crescem na região são resistentes ao frio, especialmente ricos em carboidratos e pouco fibrosos, o que os torna muito calóricos e de fácil digestão para as crianças. Lá também se encontram a corrente marítima de Agulhas, que traz água quente de latitudes mais ao norte do Oceano Índico, com a de Benguela, que é fria e cheia de nutrientes, provocando grande abundância de mariscos e outros frutos do mar. Foi essa dieta rica em carboidratos e proteínas que salvou o Homo Sapiens.

Hoje somos quase 7 bilhões, mas já fomos uma espécie em extinção.

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

PERTURBA, MAS É NATURAL

― Filho vai para escola.
― Mãe, deixa eu faltar, só hoje?
― Não. Você tem obrigação de ir.
― Por quê?
― Porque você tem 40 anos e é o diretor da escola.

A anedota ridiculariza os filhos que teimam em não sair da casa paterna, fenômeno comum na sociedade contemporânea em que jovens prolongam o estudo e retardam o momento do casamento.

Vendo nas histórias da Idade Média os rapazes tornarem-se guerreiros, reis e se casarem muito novos, ficamos com a impressão de que os jovens atuais são especialmente infantis. Não sei se tais relatos são lendários ou se o período medieval foi uma exceção, o fato é que a humanidade não se caracteriza pelo amadurecimento precoce.

O índio caçador-coletor amazônico não sobrevive por si próprio até os 18 anos*, o que nos leva a supor o mesmo para o homem pré-histórico, também caçador-coletor. Devido a baixa expectativa de vida, os primitivos passavam a maior parte de suas existências dependendo de pais ou familiares. Na Grécia clássica, a maioridade era determinada pela morte do pai. Enquanto ele vivesse, o filho era legalmente “menor”. Ainda que tivesse 60, 70 anos, não podia ter propriedades em seu nome, nem votar ou ser votado.

Foi a natureza, através da seleção natural, que fez a espécie humana gerar o filhote de mais lento amadurecimento em todo reino animal. Portanto, se seu filho recusa-se a sair de casa, diga o que quiser, menos que isso não é “natural”.

* De acordo com o antropologista Hillard Kaplan da Universidade do Novo México ― Scientific American, agosto de 2010, pág 33.

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domingo, 1 de agosto de 2010

VEADO!

Flavio Franklin
No safári que fiz na África do Sul soube que, quando as fêmeas entram no cio, o veado chega a perder 40% de seu peso em semanas por excesso de exercício libidinoso e falta de tempo para se alimentar.

A bem da verdade, “veado” deveria ser um elogio à potência masculina e não xingamento.

Observe que o único macho (com chifres) pastoreia um bando de fêmeas.

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

FOME ANIMAL!

Flávio Franklin

Pensamos levar nossos dois filhos, 11 e 15 anos, para um giro cultural pela Europa. Como eles não demonstraram o menor interesse por “estudar” durante as férias, fizemos um safári fotográfico na reserva Kapama, no norte da África do Sul. Foi emocionante estar num jipe aberto e ver passar leões, rinocerontes, elefantes e búfalos a metros de distância.

Eu, além de tudo, gostei de ver de perto a base das leis darwinistas. Na reserva, onde passeando de jipe encontrávamos veadinhos, zebras e gnús as dezenas, conhecemos uma família de leões que não conseguia caçar um animal sequer há seis dias. Se, na natureza, até o rei dos animais passa fome, fica fácil imaginar porque o homem primitivo desenvolveu a gula que, no mundo moderno, repleto de supermercados e restaurantes, nos faz gordos.

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sábado, 3 de julho de 2010

A DERROTA NA COPA

A beleza do esporte está em ser modelo para a vida. Seu grande mérito é o desfecho rápido. Enquanto as decisões na vida real ― casar-se, estudar, iniciar um empreendimento, etc ― podem demorar décadas para se mostrarem corretas, no esporte basta esperar o final da competição. Imitando a realidade, os esportes são fortemente sujeitos ao acaso, principalmente os de escore baixo como o futebol. Ora uma pessoa de hábitos saudáveis se descobre com câncer, ora um goleiro fenomenal falha interrompendo uma série de acertos que parecia interminável.

Acostumado com as virtudes “boazinhas” da modernidade ― generosidade, gratidão, etc ― chocou-me ler que as maiores virtudes na Grécia clássica eram: o nascimento nobre, a beleza e o triunfo. Depois, refleti melhor. Já reparou como filho de rico é “naturalmente” rico e filho de artista é “naturalmente” artista? A maior virtude deles é ser filhos de quem são. Para conferir o valor da beleza basta folhear uma revista ao acaso, mas de todas, a maior virtude continua sendo o triunfo.

Depois da boa vitória sobre o Chile, temendo o sucesso de Dunga, a crônica esportiva mudou radicalmente o discurso: a seleção passou a ter defesa “impecável” e ataque “letal”. Veio a eliminação e o discurso voltou a mudar: Dunga teria feito tudo errado. Mas o Mundial tem meia dúzia de candidatos ao título, de forma que, qualquer equipe sob consideração tem menos chances de ser campeã que as outras cinco. Ou seja, a probabilidade de uma favorita ser campeã é sempre menor que a soma das probabilidades das outras cinco equipes. No momento em que escrevo a Argentina que apostou todas as suas fichas no talento dos muitos atacantes, ao contrário da equipe de Dunga que priorizou o equilíbrio entre ataque e defesa, está sendo goleada pela Alemanha.

Minha opinião: O Dunga fez um trabalho excepcional, montou uma das equipes mais fortes da competição, teve chances reais de vitória, mas, infelizmente para nós, uma das outras cinco candidatas vai levar o título. Qual? É cedo para afirmar. Quem poderia prever que o Uruguai, que se classificou na repescagem, chegaria à semifinal.

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domingo, 27 de junho de 2010

SELEÇÃO “NATURAL” NO FUTEBOL?

A seleção natural darwinista é considerada a idéia mais genial da ciência porque, sendo extremamente simples, explica a complexa existência da vida: enquanto os genes benéficos à reprodução se multiplicam nos descendentes dos indivíduos, os genes maléficos morrem junto com seus hospedeiros inférteis.

O futebol também seleciona de acordo com regras simples: Jogar bonito conta ponto? Não. Golear no mata-mata tem utilidade? Não. Esforçar-se além do mínimo necessário é prejudicial? Sim, pois o time estará desgastado para a próxima partida. Se você não gosta dessas regras, seu negócio não é futebol. Experimente fazer turismo: visitar museus e paisagens paradisíacas, comer em bons restaurantes, ser paparicado...

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terça-feira, 22 de junho de 2010

EM DEFESA DE DUNGA

Emoções são respostas animais a estímulos externos. A razão atua a posteriori, a menos que a tensão seja de tal ordem que a impeça de agir. Por exemplo, mulher gostosa desperta desejo. É num segundo momento que o homem vai refletir se vale a pena envolver-se com a cunhada ou a mulher do chefe, por exemplo. Mas se ela entrar nua em seu quarto, a emoção pode, perfeitamente, atropelar a razão.

O gato ataca quando acuado. Qualquer animal, inclusive o racional, pode sentir-se acuado a ponto de atacar. E o Dunga, que é mais paixão brasileira que fleuma britânica, acuado por um batalhão de jornalistas hostis, resmungou palavrões.

Evidentemente, a imprensa que criou o rótulo pejorativo “Era Dunga” não se reconhece hostil. Hoje, o colunista Fernando Calazans escreve sobre o Dunga em O Globo: “examinar seu comportamento como homem, como cidadão, como ser humano enfim, se é que ele pode se classificar como tal.” Depois, candidamente, afirma: “Dunga já recebeu muitas críticas dos jornalistas, minhas em particular. (Mas) Ninguém lhe dirigiu palavrões, ofensas pessoais...” Se colocar em dúvida a condição de homem, de cidadão e de ser humano de uma pessoa não é ofensa pessoal, não sei mais o que as palavras significam.

Ser técnico de uma seleção candidata ao título da Copa do Mundo é naturalmente tenso, espero que a imprensa brasileira não desestabilize emocionalmente o técnico a ponto de perdermos nossa chance de vitória.
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sábado, 12 de junho de 2010

TEVÊ BARATA DESAGREGA

Até a década de 1980, o fato de o televisor ser caro reunia a família em frente ao único aparelho. Assistir aos mesmos programas dava a pais e filhos uma base de assuntos comuns para conversarem. Hoje isso acabou, a tevê tornou-se individual.

Vi a Copa de 2002 com uma galera no telão de um amigo. Nesta Copa, a turma dividiu-se entre várias telas grandes. Dizem os pessimistas que, logo, vamos assistir sozinhos e torcer “juntos” trocando mensagens de texto no smartphone: "gooool, Brasil D+!!!!"

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segunda-feira, 31 de maio de 2010

PERDOAI OS DIETISTAS...

Perdoai os dietistas, médicos e cientistas que se arvoram a recomendar alimentação saudável, pois eles não sabem o que fazem! Como vimos na postagem anterior, o que afirmam hoje é invalidado pela descoberta (ou revisão) de amanhã.

Pergunte a seu conselheiro alimentar se a comida orgânica é natural, se responder que sim, perdoe, pois ele não sabe o que diz.

Para poder afirmar que algo é natural é preciso definir minimamente o que seja natural. Por exemplo: Natural é o que nasce na natureza sem intervenção humana. E nada do que o homem plante ou crie, inclusive o alimento orgânico, seria natural. Sejamos menos restritivos: Natural é tudo aquilo que, embora produzido pelo homem, tenha similar na natureza. Não precisa ser igual, basta ser parecido. Oras, a espiga de milho na natureza tem quatro ou cinco grãos mirrados, qualquer espiga de milho encontrada numa gôndola de orgânicos tem séculos de desenvolvimento genético e o mesmo pode-se afirmar da batata, do trigo, do arroz e de absolutamente todos os produtos que estiverem à venda. Ouso afirmar que qualquer semente geneticamente modificada pela biotecnologia é mais, muito mais semelhante à equivalente na agricultura orgânica que esta da original que existe (ou existiu) na natureza.

Então pode relaxar e comer o que quiser porque você não tem escapatória, tudo que estiver à venda é totalmente artificial. A única atitude natural ao seu alcance é comer pouco e fazer exercício porque, na natureza, o homem primitivo andava quilômetros para encontrar uma espiga de milho selvagem com poucos grãos.

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domingo, 23 de maio de 2010

REABILITARAM A GORDURA SATURADA


Já vivi o bastante para ver muito alimento ser condenado e depois reabilitado. O azeite de oliva era acusado de aumentar o colesterol, depois, descobriram que havia colesterol mau (LDL) e bom (HDL) e que o azeite aumentava apenas o bom colesterol. O café foi demonizado. Hoje se sabe que, além de não fazer mal, a cafeína estimula nosso metabolismo e ajuda a emagrecer. Tomada com moderação, óbvio, até água em excesso faz mal à saúde (rompe o equilíbrio eletrolítico do organismo por dessalinização). O consumo de bebidas alcoólicas também era desaconselhado, sem exceção. Atualmente, o vinho tinto é recomendado pelos cardiologistas. Chegou a vez da reabilitação da gordura saturada.

Em março o American Journal of Clinical Nutrition publicou uma análise comparando estudos sobre alimentação de quase 350.000 pessoas e concluiu que o consumo de gordura saturada (aquela da manteiga e da carne vermelha) não aumenta o risco de doença cardiovascular. Ou seja, a gordura saturada não faz bem como o azeite de oliva, mas também não faz mal. É neutra: aumenta o mau e o bom colesterol na mesma proporção. E o fator de risco cardiovascular não é o colesterol alto e sim o aumento da razão entre mau e bom colesteróis (LDL ÷ HDL).

A palavra chave para uma alimentação saudável continua sendo moderação, mas se você for exagerar um pouco, melhor na gordura saturada do que nos carboidratos processados (massas, pães, bolos, etc) que são calorias de rápida absorção (alto índice glicêmico). Como disse David Ludwig, diretor do programa de obesidade do Children’s Hospital Boston, “na próxima vez que você comer uma fatia de torrada com manteiga, considere que a manteiga é realmente o componente mais saudável”.

Fonte: Scientific American deste mês, pág. 10-11.

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sábado, 15 de maio de 2010

A MALHAÇÃO DE DUNGA

Saiu a convocação da Seleção Brasileira. Foram chamados basicamente os jogadores que pegaram a seleção que deu vexame em 2006 e a levaram ao topo do ranking da FIFA. Ganharam tudo: a Copa América, a Copa das Confederações e a vaga para a Copa do Mundo em 1º lugar.

Dunga foi impiedosamente malhado porque não convocou Neymar e Ganso, jogadores inexperientes que ascenderam ao time principal do Santos há poucos meses e nos têm encantado com lindas jogadas e dúzias de gols. Por que o técnico não os convocou?

Vi em documentário um leão perseguindo um macaco a toda velocidade. Momentos antes de ser alcançado, o macaco, apostando no imponderável, se vira e enfrenta o leão. Foi trucidado. Geralmente é assim, o forte usa seus recursos e o fraco em desespero tenta um golpe de sorte.

O Brasil é tão desesperadamente fraco na maioria dos esportes que torcida e crítica se acostumaram a esperar pelo êxito de gênios que providencialmente se revelem às portas da competição. Mas em futebol e vôlei somos fortes, vocês imaginariam o Bernardinho levando para a Olimpíada um jogador não suficientemente testado? Quanta ingenuidade!

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

ARCEBISPO: “A SOCIEDADE É PEDÓFILA”

A polêmica afirmação de dom Dadeus Grings na abertura da 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está correta. Mas ele errou ao apontar a liberalização da sexualidade como causa para os “desvios de comportamento”. Se verídico, padres jamais seriam pedófilos, pois não têm liberdade sexual e até o casamento lhes é vedado.

Todavia, a sociedade é realmente pedófila. Aberrações à parte, é absolutamente normal uma menina que pode conceber despertar desejo sexual. O mesmo vale para meninos adolescentes. É natural que animais capazes de se reproduzir sintam e despertem desejo sexual. O jornal O Globo de hoje noticia tanto a afirmação do arcebispo quanto a história de um homem preso por engravidar uma menina de 11 que se defendeu dizendo que a vítima o procurou. Pode estar dizendo a verdade.

Na Pré-História o ser humano começava sua vida sexual e reprodutiva com o despertar do desejo e tinha expectativa de vida de 20 anos. A civilização trouxe melhor qualidade de vida e longevidade, mas para tal, cobra da sociedade a proteção das crianças até que se tornem adultos.

A Igreja Católica é acusada de falhar na proteção das crianças que lhe são entregues em confiança.

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terça-feira, 4 de maio de 2010

MEDALHA DE BRONZE PARA O BRASIL

A maior fonte de calorias da humanidade é o arroz, em 2º lugar vem o trigo e em 3º seria a batata ou o milho? Nenhum dos dois, é a brasileiríssima mandioca (aipim ou macaxeira).

Domesticada pelos índios brasileiros a mandioca foi levada no Século XVI por navegadores portugueses do Brasil para o continente africano onde se adaptou maravilhosamente bem. Hoje a África colhe 51% e a América Latina apenas 15% da produção mundial.

O aipim é danado de gostoso, mas é uma verdadeira máquina de engordar com quase 100% de amido (açúcar) e pouquíssima proteína (1,5% contra 7% do trigo), vitaminas ou nutrientes como o ferro.

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quinta-feira, 29 de abril de 2010

É DURO SER NEGRA NA AMÉRICA

Os EEUA são considerados pelos estudiosos um “mercado de casamento” geográfico e racial, isto é, a maioria dos casamentos acontece entre pessoas de mesma raça e na mesma comunidade. Aí começa o problema amoroso da mulher negra americana.

Entre 20 e 29 anos, um em cada nove homens negros americanos está preso (e apenas uma em cada 150 mulheres). A retirada desses homens do “mercado de casamento” provocou consequências importantes:
  1. Os homens disponíveis ficaram mais valorizados.
  2. Valorizados, eles querem namorar muitas mulheres, em vez de se casar com apenas uma.
  3. As mulheres, dada a dificuldade de encontrar um homem com quem dividir o orçamento doméstico, redobraram o investimento em suas carreiras profissionais.
  4. Hoje, a mulher negra goza de maior nível econômico e cultural que o homem negro (40% mais mulheres que homens vão à universidade).
  5. Como a mulher é naturalmente seletiva, ela deseja um homem (no mínimo) de seu nível, o que diminui ainda mais suas possibilidades amorosas.
  6. Enquanto as taxas de encarceramento explodiram entre 1970 e 2007, a proporção de mulheres negras nascidas nos EEUA com idade entre 30 e 44 anos que são casadas caiu de 62% para 33%.
  7. Sem diploma do ensino médio, apenas 11% das mulheres negras nascidas nos EEUA com idade entre 30 e 44 anos tinham um marido com emprego em 2007.

Uma atraente mulher negra, doutora de um hospital em Washington (DC), conta que namorava há seis meses um eletricista quando ele recebeu um telefonema de outra namorada. Questionado, disse que não julgou que o relacionamento devesse ser exclusivo. Ou seja, a médica imaginava-se uma “princesa” para o eletricista, mas ele não pensou que ela quisesse ser a única com tantas outras “dando mole por aí”.

Dados e exemplo extraídos do artigo “Sex and the single black woman” da edição de 8 de abril p.p. da “The Economist”. A foto é meramente ilustrativa, não é a doutora da história.

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

EDUCAÇÃO SEXUAL PARA ADULTOS

Recebi um e-mail interessante. O leitor relata que sempre foi fogoso sexualmente, se a mulher tinha queixas, não era de falta de interesse e sim de excesso, quando seu apetite sobrava para outras mulheres. Mas ao aproximar-se dos 60 anos de idade, ele já não tem mais a antiga disposição. A mulher interpretou sua apatia como desamor. Separaram-se. Ele garante que seu amor continua inalterado, que o desejo pode ter diminuído um pouco, mas o que mais lhe falta é disposição. Que é uma coisa meio Macunaíma: sexo é bom, mas dá uma preguiça (com a esposa ou qualquer outra).

Sem a qualidade de vida contemporânea, a reposição hormonal e a liberação cultural feminina, a mulher não queria mais saber de sexo muito antes dos 60. Algumas não faziam mais, outras apenas deixavam o marido fazer.

Sexo para mulheres em idade avançada é um fenômeno inédito na história da humanidade, não pode ser avaliado com os paradigmas da juventude como fez a esposa do leitor. Custou para a sociedade perceber que crianças e adolescentes precisavam de educação sexual. O mundo mudou. Agora, quem precisa de educação sexual são os adultos, homens e mulheres.

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

+ BBB

Não assisti o BBB. Meu desafio é fazer um comentário sobre o desfecho do programa tendo visto apenas frações de segundo antes de trocar de canal: Se o programa fosse na Suécia, Dinamarca, Japão ou Canadá, provavelmente, o Dourado não venceria; mas teria grande chance no Haiti, Bolívia, Paquistão, Iraque e na maior parte do continente africano.

A afirmação baseia-se no artigo Uma Sociedade Livre de Doença Ajuda Homens Afeminados Atraírem Mulheres publicado na The Economist de 18 de Março p.p.

O sistema imunológico do homem viril é mais eficiente, porém, o indivíduo menos másculo é mais atencioso com mulheres e crianças. Pela lógica evolutiva, sob má condição sanitária, a mulher deveria valorizar mais a boa genética imunológica que o bom comportamento do homem. E isso realmente acontece.

Pesquisadores alteraram eletronicamente as imagens de 20 rostos masculinos acentuando e suavizando características viris. Produziram 20 pares de fotos (mais másculo, menos másculo) que foram mostrados para 4.800 mulheres de 30 países para escolherem o homem mais atraente de cada par. O resultado permitiu calcular o grau de “preferência de masculinidade” das nações participantes.

Os cientistas tentaram associar o resultado a padrões nacionais de riqueza e de comportamento, mas não encontraram correlação. No entanto, ao comparar com indicadores de saúde ― como a mortalidade infantil, a expectativa de vida e o grau de disseminação de doenças transmissíveis ― ficou claro que quanto piores os indicadores de saúde, mais as mulheres preferem os machões.

Portanto, é natural que no Brasil, onde quase metade da população não tem esgoto e morre-se de dengue até nos centros urbanos, machões como Dourado e Diego Alemão levem vantagem (imaginando que a audiência do BBB seja majoritariamente feminina).

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