terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CAMPEÃO POR ACASO?

A importância do acaso é frequentemente subestimada porque nos sentimos mais seguros com causas e efeitos do que com possibilidades e probabilidades. Por exemplo, é reconfortante pensar que nossa qualidade de vida e longevidade dependam dos cuidados que tomamos com a saúde e perturbador imaginar que o inesperado possa ocorrer a despeito de nossos esforços.

Vamos ao assunto do momento: Corinthians campeão do mundo! Assisti ao jogo, torci pelo Corinthians e considero sua vitória importantíssima, não apenas pela alegria que deu a sua torcida como pela valorização do futebol brasileiro.

O Corinthians tem inegáveis qualidades, mas o acaso foi essencial para a conquista do título. O único gol da partida resultou de um acidente de percurso. A bola chutada resvalou num adversário e, sem rumo, acabou ficando sob medida para o centroavante corintiano. Se tivesse subido mais 20 cm ele não a alcançaria, se tivesse espirrado mais para a esquerda seria rechaçada por um dos três defensores do Chelsea que lá estavam.

Durante a partida o time inglês teve mais chances de gol e teria vencido se fosse ele o eleito pelo acaso e não o Corinthians. Aí, os analistas estariam explicando a derrota da mesma forma que explicam a vitória, elencando causas e efeitos, como dois e dois são quatro.

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PRESIDENTES “ANIMAIS”


Dentre as bestas selvagens existe a figura do macho-alfa, animal que domina seu grupo e ao qual nenhuma fêmea resiste.

Nós humanos implantamos a monogamia legal para evitar que os mais poderosos tenham haréns e os humildes sejam impedidos de se reproduzir. No entanto, uma única mulher parece ser pouco também para poderosos modernos como presidentes da república.

Recentemente, surgiu na imprensa essa tal de Rosemary, chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo que, segundo a revista Época, se identificava como “namorada” do presidente Lula. Não sabemos se ela fazia jus à alcunha que se atribuía, mas muita gente devia acreditar, pois o posto de chefe de escritório regional não justificaria o poder que se descobriu que ela exercia. O certo é que para um operário chegar a Presidência da República, há que ser macho-alfa!

O presidente Fernando Henrique, segundo a imprensa, teve um relacionamento amoroso com a jornalista Mirian Dutra da TV Globo quando ainda era senador. Para um intelectual como Fernando Henrique bater todos os competidores e chegar a Presidência da República, há que ser macho-alfa!

A empresária Myrian Abicair acaba de assumir publicamente o romance que teve com o presidente Figueiredo há trinta anos. Para ser ditador do Brasil, impondo-se à força, sem a legitimidade do voto popular, há que ser macho-alfa!

Do presidente Juscelino Kubitschek diz-se que era mulherengo, que teve vários casos de amor, sendo o mais notório com a socialite carioca Maria Lúcia Pedroso, por quem teria sido apaixonado. Para construir a espetaculosa Brasília em meio ao “nada” que era, então, o centro-oeste brasileiro, há que ser macho-alfa!

O presidente Getúlio Vargas foi, durante 15 anos, amante de Virgínia Lane, segundo ela própria. Para um baixinho barrigudinho conquistar a “vedete do Brasil”, há que ser macho-alfa!

Trata-se de um fenômeno mundial: para citar apenas casos recentes e bem conhecidos, Bill Clinton seduziu uma estagiária e quase perdeu o mandato presidencial e Strauss-Kahn, então pré-candidato favorito, perdeu a chance de tornar-se presidente da França ─ François Hollande que o substituiu foi eleito ─ porque se envolveu com uma camareira de hotel.

Ou seja, homens inteligentes e espertos, que sabem o estrago que um escândalo sexual pode lhes causar, não resistem a seus instintos animais.

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sábado, 17 de novembro de 2012

HISTERIA, O FILME


O fato que reportei neste blog em 2009 originou o filme Histeria, que está em cartaz. Ainda não vi o filme, não sei se é bom, mas a história original é interessante. Confira: http://www.datrabalhoserfeliz.blogspot.com.br/2009/11/historia-uso-sexual-do-vibrador_15.html

Foto: © Bowie15 | Dreamstime.com
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O MINISTRO PREFERE A MORTE

Recentemente, o Ministro da Justiça admitiu que os presos brasileiros são mantidos em condições desumanas, textualmente, disse: "Entre passar anos num presídio brasileiro e perder a vida, eu talvez preferisse perder a vida", "Temos um sistema prisional medieval, que não só desrespeita os direitos humanos como também não possibilita a reinserção"(*). A fala do ministro renova a atualidade de reflexões que, há mais de um ano, postei neste blog: http://www.datrabalhoserfeliz.blogspot.com.br/2011/09/vinganca-e-justica.html

Foto: © Kmiragaya | Dreamstime.com
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terça-feira, 6 de novembro de 2012

O "PLANO B" DO AMOR

O amor é essencial à felicidade humana, mas dá trabalho.

Muitos casais optam por não ter filhos. Filhos dão trabalho. Antigamente, eram submissos e, quando saiam da linha, uma boa sova os endireitava. Hoje, dão ainda mais trabalho. Principalmente porque a molecada, informada pela internet, se julga mais sabida que os adultos. E o consumo de drogas banalizou-se, ninguém está livre de ter filhos drogados flertando com a tragédia.

Ficou difícil até para os casais se formarem. Homens e mulheres não se entendem mais. Cada gênero sempre teve seu modo peculiar de pensar, sentir e desejar. Porém, outrora, a mulher se sujeitava às vontades do homem. Com o pensamento contemporâneo, o homem perdeu o ímpeto de dominar e a mulher passou a considerar a submissão humilhante. Todavia, a natureza humana não mudou, o homem continua desejando dominar e a mulher ser dominada. Como isso se tornou culturalmente inaceitável, diminuiu o entusiasmo de parte a parte (veja uma proposta de solução na postagem abaixo).

Atualmente, quem substitui o amor da companhia estável que o solitário desistiu de procurar? Quem supri o afeto dos filhos que o casal abdicou de ter? E para quem vive em família, quem complementa a atenção de que se julga merecedor e se cansou de reivindicar? O cachorro.

Saia justa verídica: Meu amor, comprei vários presentinhos para você! Gritou a mulher, ao entrar em casa, para o cão que vinha recebê-la. Oba, quero ver! Respondeu o marido no cômodo ao lado.

Foto: © Crazy80frog | Dreamstime.com

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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

50 TONS DE CINZA


Como explicar o sucesso estrondoso do livro? Vi uma opinião interessante da terapeuta Regina Favre no programa Metrópolis da tevê Cultura de São Paulo (assista pelo link abaixo) que poderíamos resumir assim:

Até a década de 1960, a grande meta da mulher era encontrar e reter um homem que a protegesse (e a quem ela ficava submissa). Depois da liberação feminina, a mulher ainda não encontrou um novo modelo de realização pessoal. O modelo de liberdade total que Amy Winehouse simbolizou é assustador, pois juntamente com a fama e a fortuna vem o risco de morte.

O sucesso do livro, segundo a terapeuta com 35 anos de experiência clínica com mulheres, deve-se à proposição de um novo modelo de realização pessoal feminino: independência na vida pública (no trabalho, etc) e submissão, por um homem que valha à pena, entre quatro paredes.

No reino animal, o sexo mais forte fisicamente sempre predomina sobre o mais fraco, assim, é da natureza do homem dominar e da mulher submeter-se. A conquista da independência feminina, como efeito colateral, subtraiu das mulheres poder de reter os homens (apenas levá-los para cama é bem mais fácil). 50 Tons de Cinza sugere uma alternativa que, ao ser tão bem recebida pelo público feminino, reafirmaria o que muitas mulheres têm dificuldade de aceitar: que não são somente eles que gostam de dominar, elas também gostam, e muito, de ser dominadas.


Foto: © Canaris | Dreamstime.com

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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

DILEMAS FEMININOS

Muitas feministas, ao se casarem, não querem adotar o sobrenome do marido, preferem manter o de solteira, ou seja... do pai. Usar o sobrenome de um homem ou de outro, que dilema!

É inegável que muito do esforço que as mulheres fazem para ficar bonitas é mais para impressionar as outras mulheres do que para agradar aos homens. Por exemplo, toda mulher que tem êxito na dieta chega a um momento em que precisa decidir se para no ponto em que os homens apreciam ou emagrece até causar profunda inveja nas amigas. Que dilema!

Na revista Veja da semana passada saiu o artigo “Data vênia, seu Prada é o máximo” falando sobre mulheres profissionalmente bem sucedidas que não hesitam em gastar fortunas para se vestirem com as mais conceituadas grifes. Para essas não há dilema! Certamente, preferem humilhar as colegas a agradar os homens. Sim, porque homem, geralmente, é incapaz de reconhecer um Prada. Há até uma cena antológica a respeito no filme Legalmente Loira: a advogada protagonista descobre que um sujeito é gay ─ o que, no caso, desmontava a tese da parte contrária ─ simplesmente porque o vê debochar de um sapato Prada por ser da coleção anterior.


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sábado, 22 de setembro de 2012

DIETA SEM RESTRIÇÃO ALIMENTAR?


No livro que dá nome ao blog expliquei que o hormônio PYY era importante para o controle de peso porque ele “leva a mensagem de saciedade do aparelho digestivo ao cérebro e nos faz parar de comer.” e previ que “Num futuro próximo, vamos controlar nosso apetite com comprimidos de PYY sintético.” (pag. 26).

Folheando o número de fevereiro de 2012 da revista Scientific American (pag. 12) vi que o futuro está realmente próximo.

Um estudo científico comprovou que num bufê, onde se tem liberdade para escolher o que consumir e em que quantidade, as pessoas que tomam injeção de PYY ingerem 30% menos calorias. No entanto, ninguém quer fazer uma dieta que obrigue a tomar injeção várias vezes ao dia.

O PYY não é eficaz em comprimidos porque o hormônio (que é naturalmente produzido no intestino) não resiste ao trato estomacal. Mas uma pesquisa recente revelou que a língua teria receptores de PYY. Se comprovado, significa que o PYY poderia ser ministrado via oral, não em comprimidos, mas em chicletes.

Dieta sem qualquer restrição alimentar! Já imaginou que maravilha?

Foto: © Lsantilli | Dreamstime.com
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PODERIA O BOTOX NO ROSTO ENDURECER O CORAÇÃO?


Recentemente, li no jornal que um empresário dissera que o Botox endurecera o coração do Ministro Mantega. Não sei se o ministro submeteu-se a aplicações de Botox, mas, se sim, o sarcasmo tem algum fundamento.

Estudiosos afirmam que as expressões faciais não apenas refletem sentimentos como os retroalimentam: sorrir reforçaria o bem-estar, enquanto a cara fechada, o desgosto.

Devido à menor capacidade de se emocionar, talvez, o botocado tenha mais facilidade para tomar atitudes duras.

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

CADA UM COM SEU EQUILÍBRIO ECOLÓGICO


Acreditava-se que a identidade de uma pessoa era determinada, basicamente, por fatores genéticos e comportamentais. Por exemplo, filhos de pais altos seriam altos e de pais virtuosos, virtuosos. As exceções eram explicadas também por fatores genéticos e comportamentais, podia acontecer da criança herdar a altura de uma bisavó baixinha ou ser desencaminhada por más companhias. Por fim, vírus e bactérias causavam apenas doenças. Agora, o papel dos microrganismos está sendo revisto: se alguns são patogênicos, outros são essenciais.

A diferença genética entre duas pessoas quaisquer não chega a 1%, mas suas colônias micro bióticas podem diferir em até 30%. Além de diversificados, numerosos: o corpo humano abriga 10 micróbios para cada célula própria. A ciência moderna deixou de pensar o corpo humano como uma máquina orgânica e suas peças (cérebro, coração, etc.) para pensá-lo como um complexo ecossistema de cujo equilíbrio ecológico depende nossa vida.

Por exemplo, o ser humano ─ assim como outros mamíferos ─ não tem os genes necessários para processar carboidratos complexos. Felizmente, a maioria de nós está contaminada pelo Bacteroide thetaiotaomicron. Os carboidratos complexos dos vegetais que comemos são digeridos por esse micróbio e nós nos alimentamos de seus dejetos (suas fezes), que são fragmentos dos carboidratos originais.

Em 2005, pesquisadores da Washington University reportaram que, para alcançarem o mesmo peso, ratos criados em ambiente estéril precisavam comer 30% mais alimentos que os contaminados com o B. thetaiotaomicron.

Já a bactéria H. pylori desempenha função importante no mecanismo de percepção da saciedade. Cientistas acreditam que parte do aumento da obesidade infantil nos EUA se deve ao uso indiscriminado de antibióticos para combater dor de ouvido que estaria exterminando essa bactéria do organismo das crianças.

Pesquisadores também investigam se ao nascer de parto normal a criança é contaminada pela mãe com uma infinidade de microrganismos benéficos, o que não aconteceria no ambiente asséptico da cesariana. Por isso, o parto normal, como o aleitamento materno, seria mais saudável para o bebê.

Os estudos sobre microrganismos benéficos estão apenas começando. Deve demorar para que se traduzam em práticas saudáveis (como o consumo de iogurtes com lactobacilos vivos que auxiliam no trato intestinal).

Fonte: Matéria de capa da Scientific Americam de Junho de 2012.
Foto: © Suravid | Dreamstime.com
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quinta-feira, 7 de junho de 2012

CHANCE À SORTE

Gostamos de acreditar que temos livre arbítrio, mas, se escolhemos o que fazer, não escolhemos o que querer. Por exemplo, o sujeito atraído pela cunhada pode ter razoável domínio sobre ceder ou não aos seus encantos, mas não pode decidir não desejá-la. Estará condenado às complicações do sim ou à frustração do não, pois o desejo sexual obedece à seleção natural darwinista e não ao livre arbítrio.

Além da falta de livre arbítrio, ainda existem a herança genética e o acaso. Queremos crer que fazendo o certo seremos afortunados. Doce ilusão! Pessoas que se exercitam regularmente, se alimentam bem e levam vida virtuosa sofrem doenças e acidentes fatais enquanto canalhas que não se cuidam e fazem malfeitos gozam a vida numa boa. Como disse o Scar, o irmão mau do Rei Leão, a vida não é justa (Life’s not fair).

Contudo, mesmo reconhecendo o papel fundamental do incontrolável, devemos ter a humildade de fazer o que estiver ao nosso alcance, não para garantir, mas para aumentar a probabilidade de uma vida melhor: dar chance à sorte e não ao azar. 

Ilustração: © Laurelie | Dreamstime.com
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quarta-feira, 16 de maio de 2012

ALDEIAS VIRTUAIS


Pesquisas comprovam que os habitantes das cidades grandes são mais liberais que os das pequenas porque, nestas, é mais comum um comportamento reprovável cair no domínio público e prejudicar reputações. Por exemplo, uma garota abusar da sensualidade num baile de aldeia é um acontecimento, a comunidade toda vai comentar e a jovem, provavelmente, ficará com má fama. Na cidade grande, tomando alguns cuidados, ela poderia se esbaldar a vontade que dificilmente seria vista por conhecidos.

Nos sites de relacionamento social, como dá status ter muitas amizades e é indelicado recusar adesões, as pessoas costumam aceitar amigos, amigos de amigos, colegas, chefes e subalternos formando comunidades de centenas de pessoas conhecidas, verdadeiras aldeias virtuais.

No exemplo, suponha que na cidade grande a garota encontre um conhecido, um único, que resolva registrar sua inconveniência com o celular e postá-la no Facebook (ou Instagram). Todos seus conhecidos irão vê-la na situação comprometedora, “curtir” e comentar tal qual nas pequenas comunidades.

O progresso tecnológico, socialmente, está nos convidando a regredir para o aldeamento. É cômico, se não for trágico!

Foto: © Dpikros | Dreamstime.com
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segunda-feira, 7 de maio de 2012

AQUI, AGORA E... NO FACEBOOK TAMBÉM


Minha mulher resolveu fazer um curso de budismo à noite. Convidou-me a acompanhá-la e até pagou minha inscrição. Na plateia havia umas 40 pessoas, dentre as quais, mais de 30 mulheres. Não acredito que elas tenham particular interesse pelo budismo. As mulheres também são maioria nos cursos de história, arte, psicologia, culinária, atualidades, etc, pois o interesse variado é próprio da natureza feminina.  Já na Pré-História, enquanto os homens saíam para caçar, as mulheres dedicavam-se a casa, aos filhos e a muitas outras atividades, inclusive, a fazer fofoca – ferramenta de rede social precursora do Facebook.

Durante o curso, destacou-se a unicidade de cada momento da vida, que é um conceito multicultural: o filósofo grego Heráclito (aprox. 500 a.C.) dizia ser impossível entrar duas vezes num rio, pois, na segunda, o rio não seria mais o mesmo, nem a pessoa. Como cada momento da vida humana é único, budistas e filósofos ocidentais recomendam vivê-los com dedicação.

Na saída da última aula, quatro alunos interceptaram o professor para uma última pergunta. Nem bem ele começou a respondê-la, uma das moças do grupo sacou seu iPhone e pôs-se a surfar pela internet, mandando às favas a tão decantada preciosidade do momento único (além da recomendável polidez).

Foto: Buda de Jade de Bancoc, foto do autor.
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sexta-feira, 23 de março de 2012

POR QUE A MULHER GANHA MENOS?

Outro dia, soube que, nas mesmas funções e com as mesmas qualificações, a mulher americana ganha 19% a menos que o homem e a brasileira 30%. As causas apontadas foram as de sempre: a sociedade é machista, conservadora, etc. No debate (na tevê), ninguém se lembrou de incluir as peculiaridades das naturezas feminina e masculina.

Numa época em que tanto se fala em redução de custos, não faria sentido as empresas pagarem mais aos homens, a troco de nada, se as mulheres fossem igualmente eficazes. As empresas pagam menos à mulher, dentre outras razões, porque têm que compensar o custo extra que a condição feminina impõe ao negócio, como o custo de substituição da empregada que sai de licença maternidade. Note que o período de licença no Brasil é mais que o dobro do americano, o que explica, em parte, nossa maior defasagem salarial.

Um colega de meu filho acidentou-se na escola e desmaiou. Avisado por telefone, o pai disse que não podia ausentar-se do trabalho e deixou o atendimento ao menino por conta do colégio. A mãe não foi localizada, mas se fosse, provavelmente, sairia da empresa correndo para prestar socorro ao filho.

É comum o homem colocar o trabalho acima do casamento, da família e dos filhos. Em reconhecimento, é melhor remunerado pelo mercado. Mas priorizar o trabalho não é próprio da natureza feminina. Como, fisiologicamente, é a mulher que engravida e amamenta, a natureza a faz emocionalmente mais empenhada no bem-estar dos filhos e no vínculo afetivo com o homem, cujo concurso, ajuda a criá-los. Abandonar um filho a própria sorte, como no caso relatado, causa mais dor às mães que aos pais.

A diferença salarial entre gêneros vem diminuindo por causa da crescente disposição profissional da mulher. Será que, algum dia, a maioria das mães preferirá abandonar o filho acidentado a ausentar-se da empresa? Acredito que não.

Foto: © Dmytro Konstantynov | Dreamstime.com

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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A MAIORIA DOS BRASILEIROS NASCE POR ENGANO!


Reportagem do jornal O Globo* conta-nos que uma pesquisa coordenada pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz com 22.000 mães apurou que 55% dos filhos não são desejados, ou seja, que a maioria dos brasileiros nasce por engano. A reportagem clama por mais esclarecimento à população sobre métodos anticoncepcionais.

Não acredito que no Brasil atual haja muita gente que, em idade reprodutiva, não saiba que fazer sexo possa engravidar ou ignore a funcionalidade da camisinha e da pílula anticoncepcional.

Atualmente queremos poucos filhos e, de preferência, que venham tardiamente para não atrapalhar nossa realização pessoal. Mas a natureza humana quer muitos filhos e o quanto antes melhor. E ela costuma agir quando menos se espera. Por exemplo:

A camisinha é um ótimo anticoncepcional, eficiente, econômico, evita doenças sexualmente transmissíveis, mas, no calor do momento, nem sempre é usada porque a natureza, para facilitar a procriação, nos torna afoitos e descuidados.

É comum o homem crer que a responsabilidade de evitar filhos seja da mulher, afinal, é ela que corre risco de engravidar e a mulher acreditar que seja do homem, pois é ele que deve usar camisinha e cada um esperar pela providência do outro. Na última hora, quando se percebem desprotegidos, já não conseguem parar. É a natureza que, para facilitar a procriação, nos faz negligentes.

O homem promete interromper o coito antes de ejacular e a mulher acredita. Talvez, ele também acredite. Mas o coito não é interrompido. É a natureza que, para facilitar a procriação, nos faz acreditar no improvável.

Etc.

Como vemos, a gravidez indesejada é resultado do embate entre nosso livre arbítrio e forças (inconscientes) da natureza humana e não, simplesmente, falta de conhecimento sobre métodos anticoncepcionais.

* 20/Fev/2012, páginas 1 e 3.
Foto: © Annatamila | Dreamstime.com
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

FONTE DA JUVENTUDE?


Supõe-se que a vida média dos humanos na Pré-História foi inferior a 20 anos. Na Idade Média, 40. No Japão atual, mais de 80. Até onde pode-se chegar?

Infelizmente, ainda não existe qualquer tecnologia que consiga aumentar a vida das pessoas, consegue-se apenas evitar a mortalidade precoce causada por fome, frio, acidentes e doenças evitáveis.

Quando a morte prematura for praticamente extinta e quase todos morrermos de velhice, imagino que a expectativa média de vida deva chegar aos 100 anos, não mais, a menos que... a vida humana possa ser realmente estendida.

O que é morrer de velhice? É morrer de doenças degenerativas relacionadas à idade, como a degeneração do músculo cardíaco, alguns tipos de câncer, Alzheimer, Parkinson, etc.

Em 1935 o nutricionista Clive McCay mostrou que colocar ratos jovens em dieta de fome severa prolongava extraordinariamente suas vidas. Desde então, a restrição calórica vem provando experimentalmente estender a vida de animais variados como aranhas, cachorros e até macacos. Cortar a ingestão de calorias em 1/3 tem prolongado a vida animal em até 40% e dado aos animais velhos aparência jovem e saudável. Ou seja, com os recursos sanitários, médicos e alimentares atualmente disponíveis, uma pessoa poderia ser jovem e saudável aos 90 anos e viver 140 caso se sujeitasse a passar fome a vida toda.

A fome prolonga a juventude porque interfere no processo de reprodução celular. Absorvendo nutrientes as células crescem até se reproduzirem, dividindo-se em duas. Quando há escassez de alimentos, as células mantêm-se vivas por autofagia, que consiste em obter energia consumindo componentes internos defeituosos como proteínas malformadas e mitocôndria disfuncional. Como resultado, ficam mais saudáveis e reproduzem-se menos, diminuindo a probabilidade da geração de células degeneradas que, normalmente, surgem de acidentes na reprodução celular.

Na década de 1990 descobriu-se que a droga rapamycin inibe a enzima mTOR, que avisa as células de que há nutrientes disponíveis no organismo. Portanto, em tese, a pessoa não precisaria viver com fome para otimizar seu desenvolvimento celular, bastava tomar o rapamycin para impedir a enzima mTOR de avisar as células sobre o alimento disponível.

A função da enzima mTOR é mais complexa do que simplesmente avisar as células sobre a disponibilidade de nutrientes e a droga rapamycin provoca graves efeitos colaterais. Mas, apesar de todo o desconhecimento que ainda envolve a matéria, pela primeira vez na história da humanidade, retardar o envelhecimento é uma possibilidade.

Fonte: Revista Scientific American, janeiro de 2012, reportagem de capa: The Pathway of Youth?

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