sexta-feira, 11 de julho de 2014

ALEMANHA 7 X 1 BRASIL

O evolucionismo pode ajudar a esclarecer porque o 7 x 1 não humilhou os jogadores brasileiros, nem a comissão técnica. Humilhou o próprio futebol brasileiro.

Segundo o Prêmio Nobel Daniel Khneman, o processo evolutivo dotou o cérebro humano com mecanismos de resposta imediata e mediata que chamou de Sistema 1 e Sistema 2. O primeiro trabalha com intuições e o outro com a razão. Para ser rápido, o Sistema 1 tira conclusões associando as memórias mais acessíveis ─ que são as mais recentes, espetaculares ou traumáticas.

Neste momento doloroso, nosso Sistema 1 só consegue resgatar imagens ruins do Felipão e dos jogadores e as conclusões sobre eles são as piores possíveis. Mas vamos deixar de preguiça e colocar o Sistema 2 para trabalhar:

A espetacular seleção de 1982 foi legítima representante do que havia de melhor no futebol brasileiro. Vinte dos vinte e dois convocados jogavam no Brasil.

A seleção campeã de 2002 ainda representava nosso futebol, pois mais da metade (12/23) do elenco atuava no país e a maioria dos outros saiu daqui amadurecida, campeões da Copa Libertadores da América (Roque Junior e Junior), do Campeonato Brasileiro (Rivaldo e Roberto Carlos), etc.

Ao contrário, os jogadores da atual seleção não representam nosso futebol. À exceção de Neymar, saíram prematuramente do país e foram formados no futebol alemão, inglês, italiano, francês, espanhol, ucraniano, etc. O verdadeiro futebol brasileiro é o que se vê no Brasileirão: muita correria e pouca técnica.

A despeito da precariedade de nosso futebol, conseguiu-se amealhar atletas espalhados pelo mundo afora e montar uma seleção com qualidade suficiente para ganhar a Copa das Confederações e ser semifinalista da Copa do Mundo. Um grande feito.  Os jogadores e a comissão técnica estão de parabéns.

Os verdadeiros responsáveis pelo vexaminoso 7 x 1 são os administradores brasileiros do esporte ─ CBF, governo, clubes e empresários ─ que permitiram que a situação chegasse onde chegou: fuga precoce de talentos, clubes falidos, torcidas organizadas violentas, preços exorbitantes desproporcionais à qualidade dos espetáculos, falta de intercâmbio de técnicos e jogadores com os grandes centros futebolísticos, estádios vazios, etc.


Para sermos sinceros, o Brasil não merecia ganhar essa Copa, nem a Argentina, cujo futebol consegue ser ainda pior do que o nosso. A Alemanha sim.

Ilustração: © Tomajestic | Dreamstime.com
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sábado, 29 de março de 2014

ESTUPRO: CORRER MAIS OU MENOS RISCOS

O jornal O Globo noticiou a ocorrência de protestos nas ruas e na Internet em resposta a divulgação da pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em que 65% dos entrevistados concordam, em alguma medida, que a mulher que deixa o corpo a mostra “merece” ser estuprada.

A respeito dos 58,5% que concordam que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”, Ancelmo Gois, colunista de O Globo, reportou: “Antenado, o novelista Manoel Carlos escreveu uma cena em que Virgílio (Humberto Martins) e Helena (Julia Lemmertz) leem a notícia sobre essa pesquisa e se mostram indignados.”

Os protestos são mais do que justos, pois ninguém “merece” ser estuprado, em hipótese alguma. Porém, não concordo com a indignação contra os que acreditam que o comportamento prudente possa diminuir a incidência de crimes.

Raciocinemos:

Das pessoas que avistam um cão solto em via pública, quais correriam mais riscos, as que mudam de trajeto e tomam distância prudente ou as que não se desviam? A proximidade aumento o risco de ataque. Reconhecer o fato não atenta contra o direito à livre circulação das pessoas, nem diminui a responsabilidade civil e criminal do dono do cachorro.

Será que alguém, em sã consciência, discorda?

Analogamente, a mulher que se utiliza de roupas ou atitudes provocantes em situações inseguras se expõe a uma probabilidade maior de estupro. Identificar o risco maior que as incautas correm não lhes nega o direito de usar a roupa que quiserem, nem atenua o crime do estuprador.

Não podemos nos iludir com o brilho radiante do verniz civilizatório, pois, abaixo dessa fina camada, o ser humano continua sendo um animal violento.

Será que alguém, em sã consciência, discorda?

Foto:  ©  | Dreamstime.com

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domingo, 23 de fevereiro de 2014

UMA BOA PERGUNTA

Aproximadamente, metade da população é homem e metade é mulher.  Por que dentre elas há o sentimento generalizado de que faltam homens e neles o sentimento é de que mulheres não faltam?

Uma mulher me respondeu que não é que faltem homens é que faltam homens desejáveis porque a maioria não presta. E os que prestam, raramente, estão livres.

Não creio que, em média, as mulheres sejam melhores do que os homens e nem vice-versa. Porém, concordo que existam mais mulheres desejáveis do que homens. Simplesmente, porque eles são menos exigentes. Mas, por quê?

Por razões evolutivas.

Apesar de, conscientemente, nem sempre queiramos filhos, instintivamente, identificamos como desejáveis as pessoas mais adequadas à reprodução da espécie.

Devido a capacidade reprodutiva do homem ser praticamente ilimitada, qualquer mulher saudável lhe é desejável. Mas o desejo da mulher é necessariamente mais seletivo porque suas oportunidades reprodutivas são limitadas pela gravidez, amamentação e vida fértil mais curta.

Digamos que os homens se satisfaçam, ao menos durante algum tempo, com mulheres nota 4, enquanto elas querem, no mínimo, 7.

Ilustração: ©  | Dreamstime.com

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sábado, 8 de fevereiro de 2014

DESMISTIFICANDO O SOBRENATURAL

A ocorrência de eventos pouco prováveis parece sobrenatural às pessoas que, ao contrário dos matemáticos, não estão familiarizadas com o Princípio da Improbabilidade: qualquer evento improvável torna-se provável em um contexto de grandes números.

Em um grupo pequeno, parece-nos uma incrível coincidência haver duas pessoas que façam aniversário no mesmo dia porque não nos damos conta de que ao se combinar as pessoas, duas a duas, formam-se muitos pares, precisamente, n x (n-1)/2.

Por exemplo, em uma classe de 30 alunos, são 435 pares possíveis (30 x 29 / 2), ou seja, 435 chances de haver coincidência. Calculando, a probabilidade de dois alunos fazerem aniversário no mesmo dia é de 68%. Portanto, é bem mais provável haver do que não haver dois alunos que façam aniversário no mesmo dia.

A ciência sabe muito, mas não sabe tudo. Digamos que a probabilidade de haver uma cura inexplicável de câncer seja mínima, uma em um milhão. Porém, como são mais de 14 milhões de casos de câncer registrados por ano, é razoável supor que, todo ano, aconteçam 14 curas passíveis de serem consideradas milagrosas.

Se você prestar atenção verá que por trás de todo acontecimento “sobrenatural” há um grande número. A própria existência do ser humano seria totalmente improvável sem bilhões de anos de seleção natural.

Fonte: Revista Scientific American, fevereiro de 2014, Never Say Never, pag. 58-61
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