quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A ORIGEM DA FELICIDADE

© Andreas Meyer / Dreamstime.com
Nos comentários à postagem “Atenção moças” discutimos se os filhos seriam motivos, principalmente, de tormento ou felicidade. O debate deu-se em tão alto nível que me motivou a reproduzir reflexões sobre a origem da felicidade que fiz em “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena”:
Não é de hoje que é bom ser bom. Na época das cavernas, o caçador generoso que doava aos vizinhos a carne excedente de suas caçadas acumulava créditos de gratidão para quando a sorte lhe faltasse. Sendo solidários, esses caçadores e seus familiares tinham mais chances de sobreviver e deixar descendentes.
Assim, passados de pais para filhos, os genes que propiciam as virtudes e o amor chegaram aos dias atuais.
Da natureza animal herdamos o prazer que recompensa atos alimentares e sexuais. Mas, para incentivar comportamentos como o amor e as virtudes, em algum momento da evolução humana surgiu a felicidade. Creio que ela seja um sentimento exclusivamente humano. O animal sente prazer e dor, mas não é feliz ou infeliz, porque lhe falta capacidade mental para avaliar sua qualidade de vida presente, refletir sobre o passado e ter preocupações ou esperanças futuras.
A meu ver, a felicidade é resultado de dois passos evolutivos. O primeiro, dado provavelmente por um ancestral nosso e dos macacos, é a capacidade de sentir desejo e prazer por atitudes de preservação da espécie sem recompensa imediata. Já se observou um chimpanzé arriscar sua vida entrando num lago para salvar um semelhante que se afogava. Algum desejo o motivou e, presume-se, algum prazer o recompensou (“orgulho” pela boa ação?). O segundo passo evolutivo indispensável à felicidade foi dado exclusivamente pelo ser humano ao adquirir a habilidade de memorizar e prever sentimentos.
A felicidade é um estado de espírito que resulta da situação atual, de expectativas futuras e da memória do bem-estar do passado. Embora os requisitos emocionais para a felicidade tenham se estabelecido na Pré-História, os meios materiais para sua popularização vieram apenas com o desenvolvimento tecnológico da modernidade. Na Idade Média, por exemplo, metade das crianças morria antes dos cinco anos de idade e mais de 99% dos adultos eram miseráveis, ignorantes e esfomeados que, sem acesso a saneamento básico e remédios, adoeciam com freqüência. Era uma vida sofrida. Apenas as elites, uma parcela ínfima da população, viviam períodos de felicidade. Mesmo assim, era preciso muita sorte, porque reis e rainhas também não tinham água tratada, esgoto, vacinas, antibióticos, anestésicos, etc.

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