quinta-feira, 21 de junho de 2012

CADA UM COM SEU EQUILÍBRIO ECOLÓGICO


Acreditava-se que a identidade de uma pessoa era determinada, basicamente, por fatores genéticos e comportamentais. Por exemplo, filhos de pais altos seriam altos e de pais virtuosos, virtuosos. As exceções eram explicadas também por fatores genéticos e comportamentais, podia acontecer da criança herdar a altura de uma bisavó baixinha ou ser desencaminhada por más companhias. Por fim, vírus e bactérias causavam apenas doenças. Agora, o papel dos microrganismos está sendo revisto: se alguns são patogênicos, outros são essenciais.

A diferença genética entre duas pessoas quaisquer não chega a 1%, mas suas colônias micro bióticas podem diferir em até 30%. Além de diversificados, numerosos: o corpo humano abriga 10 micróbios para cada célula própria. A ciência moderna deixou de pensar o corpo humano como uma máquina orgânica e suas peças (cérebro, coração, etc.) para pensá-lo como um complexo ecossistema de cujo equilíbrio ecológico depende nossa vida.

Por exemplo, o ser humano ─ assim como outros mamíferos ─ não tem os genes necessários para processar carboidratos complexos. Felizmente, a maioria de nós está contaminada pelo Bacteroide thetaiotaomicron. Os carboidratos complexos dos vegetais que comemos são digeridos por esse micróbio e nós nos alimentamos de seus dejetos (suas fezes), que são fragmentos dos carboidratos originais.

Em 2005, pesquisadores da Washington University reportaram que, para alcançarem o mesmo peso, ratos criados em ambiente estéril precisavam comer 30% mais alimentos que os contaminados com o B. thetaiotaomicron.

Já a bactéria H. pylori desempenha função importante no mecanismo de percepção da saciedade. Cientistas acreditam que parte do aumento da obesidade infantil nos EUA se deve ao uso indiscriminado de antibióticos para combater dor de ouvido que estaria exterminando essa bactéria do organismo das crianças.

Pesquisadores também investigam se ao nascer de parto normal a criança é contaminada pela mãe com uma infinidade de microrganismos benéficos, o que não aconteceria no ambiente asséptico da cesariana. Por isso, o parto normal, como o aleitamento materno, seria mais saudável para o bebê.

Os estudos sobre microrganismos benéficos estão apenas começando. Deve demorar para que se traduzam em práticas saudáveis (como o consumo de iogurtes com lactobacilos vivos que auxiliam no trato intestinal).

Fonte: Matéria de capa da Scientific Americam de Junho de 2012.
Foto: © Suravid | Dreamstime.com
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Um comentário:

Stella disse...

Achei interessantíssimo esse artigo, Flávio, mas não sei se algum dia conseguirei consumir iogurtes com lactobacilos vivos. É demais para mim.

Cheguei aos seus blogs por acaso, pesquisando Pierrepoint, o lavador de almas. Adorei e volto para conhecer mais! Um abraço, Stella