sábado, 29 de junho de 2013

DILMA NÃO ENTENDE AS MANIFESTAÇÕES

O ex-presidente Lula não via, ou fingia não ver, os desvios cometidos em seu governo.  Por sua vez, a presidente Dilma não entende, ou finge não entender, as manifestações de rua.

Em maio do ano passado, comentei que “o progresso tecnológico, socialmente, está nos convidando a regredir para o aldeamento.” (http://datrabalhoserfeliz.blogspot.com.br/2012/05/aldeias-virtuais.html) O que alertei especificamente quanto às liberdades individuais, manifesta-se agora quanto à licenciosidade governamental.

Nas aldeias os costumes são menos liberais do que nas cidades grandes porque ninguém quer se arriscar a cair na boca do povo: comerciante com fama de desonesto não faz mais negócio, moça falada não arranja marido e assim por diante. As mídias sociais vieram possibilitar que pessoas apartadas pelo gigantismo dos conglomerados humanos conversem e fofoquem como se fossem vizinhos de porta.

Em resumo, as manifestações de rua atuais acontecem porque o comportamento do governo brasileiro caiu na boca do povo. Quando partidos de oposição e a imprensa apontam os malfeitos do governo, as pessoas fazem piada, comentam, mas não se envolvem, pois é briga de cachorro grande. Mas o que cai nas mídias sociais é conversa entre amigos, entre iguais, causa indignação.

São muitas reclamações, mas o sentimento comum é o de que os políticos se interessem mais pelo jogo de poder do que pelo bem estar do povo, por isso os manifestantes impediram a adesão dos partidos ao movimento. A reforma política pode ser necessária, mas não é o que está sendo reivindicado.

No Brasil, o problema de representatividade não está no governo, que é legítimo e foi democraticamente eleito, está nas organizações civis.  Sindicatos, uniões de estudantes, ONG, etc. deveriam ser oposicionistas, pois têm a função de se opor à situação sempre que seus representados se sintam desatendidos. E foram oposicionistas até que os últimos governos os cooptaram com verbas públicas. Não é preciso ser analista político para por em dúvida a autonomia de órgãos de representação de classe que dependam de dinheiro público para subsistir.

Sem meios institucionais para reclamar organizadamente do governo, restou à insatisfação popular o boca-a-boca (nas redes sociais) que cresceu até extravasar para as ruas como ocorria nas aldeias primitivas.

O movimento pode vir a se esvaziar pelo cansaço. Mas se tal não ocorrer, não haverá como atender a tantas e tão variadas demandas no curto prazo. Talvez, a melhor resposta da classe política ao movimento seja demonstrar de forma inequívoca a disposição de se sacrificar pelo povo. Por exemplo, se a presidente Dilma reduzisse à metade seu ministério, a população reconheceria imediatamente seu sacrifício político pelo bem do povo, ao contrário do que aconteceu quando ela propôs um plebiscito para... fazer uma Constituinte para... mudar a Constituição para... reformar o sistema político para... um dia, se der tudo certo, haver melhora.

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Um comentário:

Donga disse...

Muito boa análise, Flávio. Tive pequena amostra desta " exposição" das cidades pequenas quando passava férias em São João Nepomucno-MG.