domingo, 25 de janeiro de 2009

UMA LEITORA RECATADA PERGUNTA

© Rene Drouyer | Dreamstime.com
Estou lendo “Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena” pela 3ª vez, é muito bom. Meu nome é Andressa, tenho 19 anos e curso faculdade de Engenharia; sou recatada, romântica, talvez um pouco desastrada, meio nerd. Gosto de música, matemática, futebol e odeio bebida alcoólica. Considero-me bem bonitinha. Pelo seu livro e pelo que dizem meus familiares, isso é ideal numa garota. (Está nos atributos da mulher, em seu livro). Minhas amigas acham que eu sou a personificação do que os homens querem: recatada, meiga, tímida... Mas o fato é que não me sinto assim. Nunca tive relacionamento com algum menino além de amizade. Nenhum até hoje se interessou por mim... Poderia me dar sua opinião??

Vejo que você tem muita afinidade com os interesses masculinos: engenharia, matemática e, principalmente, futebol; o que é bom, mas é preciso tomar cuidado para que eles não a vejam apenas como “um amigo”. Eu evitaria calças jeans e t-shirts, usaria vestido, ou saia e blusa, e sempre estaria discretamente perfumada e de batom. Nunca soube de um homem que quisesse namorar uma nerd.

Se você é um pouco desajeitada, como diz, procure ser mais atenta e quando ocorrer um incidente, não o enfatize dizendo coisas do tipo “eu sou uma desastrada” ou “não tomo jeito mesmo”. Dizem que o ex-goleiro da seleção brasileira Gilmar tomava seus frangos como qualquer bom goleiro, mas seu grande mérito era saber tomá-los com naturalidade para que o time continuasse confiando nele e na vitória.

No filme “O silêncio dos inocentes”, Dr. Hannibal “The cannibal” Lecter (Anthony Hopkins) alerta à agente do FBI Clarice (Jodie Foster) de que se cobiça o que se vê, sugerindo que procurasse o assassino dentre as pessoas que pudessem observar as vítimas. Analogamente, eu diria que o homem deseja a mulher que lhe desperta a atenção. Tanto a mulher oferecida quanto a recatada têm de se mostrar, a diferença é que a oferecida se exibe acintosamente e a recatada o faz “inocentemente”: indo buscar algo para poder desfilar, se abaixando para pegar um objeto, ajeitando a gola em desalinho do homem, etc. O recato é sutil, não passivo. O homem também se exibe para as mulheres mostrando-se forte, capaz de prover, etc.

Como você viu no livro, por razões evolucionistas, é próprio da natureza feminina satisfazer-se muito mais com os relacionamentos estáveis do que com sexo sem compromisso. O homem quer sexo de qualquer forma, todavia, é mais econômico e dá menos trabalho fazê-lo sem se envolver. Antigamente as mulheres exigiam compromisso para fazer sexo, o que motivava os homens a namorar e casar. A liberação sexual feminina, ironicamente, liberou-os do compromisso. Como resultado, ficaram menos dispostos a namorar, principalmente na sua faixa etária quando ninguém ainda está pensando em casamento. Mas você tem todas as qualidades que os homens desejam, mais cedo ou mais tarde, vai aparecer um bom rapaz que a queira namorar.

Se ficar impaciente com a espera, experimente flexibilizar um pouco seus conceitos. Tomar uma taça de vinho com amigos faz bem para saúde e ajuda a desinibir. E você não vai deixar de ser uma moça recatada, nem ficar mal-falada, se for para cama com um amigo querido que você sabe que é uma boa pessoa. No sexo, ou com a bebida, não é preciso abstinência, basta moderação.

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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

QUANTO MAIS RICO, MELHOR

Quanto mais rico é o homem, mais freqüentemente sua parceira chega ao orgasmo... segundo a reportagem de O GLOBO de hoje (pag. 27) sobre uma pesquisa que analisou a vida sexual de mais de 5 mil pessoas. Já se sabia que as mulheres têm razões evolucionistas para se sentirem atraídas pelos ricos (veja abaixo) agora sabe-se que até o prazer delas, com eles, é melhor.

HOMEM RICO (do livro “Dá trabalho ser feliz”, pág. 66)

A mulher vê no homem rico uma garantia para sua sobrevivência e a de seus (futuros) filhos. Não importa que a mulher moderna seja independente. A natureza feminina é arcaica e continua querendo um homem capaz de prover a família.

O homem fica mais sexy em um BMW porque os instintos femininos percebem que, se ele pode se dar ao luxo de ter um item supérfluo desses, poderia facilmente sustentar uma família (ou outra, se já for casado).

Tenho uma baratinha BMW conversível de dois lugares, uma beleza. Desperta diferentes atenções. Os homens olham o automóvel; as mulheres olham para dentro da cabine, querem ver quem é o afortunado que está dirigindo.

Quando um homem dá um presente de grande valor material para uma mulher – jóias, por exemplo –, ele se faz ainda mais sexy do que o dono de um BMW, porque demonstra, num único ato, disponibilidade e generosidade.

Não é por acaso que a tradição brasileira manda que o homem, ao pedir uma mulher em casamento, a presenteie com uma aliança de ouro. Os norte-americanos dão um solitário de brilhante. Essa tradição, que vem do tempo em que as mulheres não se sustentavam, simboliza o comprometimento do homem em prover materialmente a mulher e a futura família. Parece-me claro que, se o casamento fosse um compromisso exclusivamente afetivo, o pedido deveria vir acompanhado de um símbolo romântico sem valor monetário, como uma declaração de amor ou um poema, por exemplo.

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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

ADOÇÃO DE UM JEITO OU DE OUTRO

© Varina And Jay Patel | Dreamstime.com

Volto ao tema. Basicamente, há duas boas motivações para adotar: caridade e vontade de ter (mais) um filho.

Conforme explico no livro Dá trabalho ser feliz, o exercício das virtudes traz felicidade. Dentre as pessoas atentas às oportunidades de serem virtuosas, algumas adotam crianças, como as celebridades do primeiro mundo, casais caucasianos que buscam africanos ou asiáticos marcados pelo sofrimento, não raramente, portadores do vírus HIV ou de síndrome de down. Tamanha diferença entre pais e filhos pode dificultar a formação do amor familiar, o que deve ser compensado por muita abnegação. Manda a prudência que, antes de fazer uma adoção desse tipo, os adotantes se certifiquem de que sejam especialmente caridosos e compassivos.

Casais que desejam um filho e optam pela adoção por não poderem conceber almejam o mesmo que os pais biológicos: bebês recém-nascidos, saudáveis, bonitinhos e parecidos consigo. É a adoção ideal pois o amor pela criança, e o dela pelos pais, desenvolver-se-á exatamente como nas famílias biológicas. A falta de parentesco genético não influi nesse amor, que é instintivo, e exclusivamente produzido pelo convívio familiar. Mas a medida que nos afastamos do ideal encontramos mais dificuldades, temporárias ou permanentes. Não saberia precisar até quando ou sob que circunstâncias é seguro adotar. Ao contrário do que Freud teorizou, importantes pesquisas têm mostrado que “eventos negativos na infância não levam necessariamente a problemas na idade adulta”, “uma criança de menos de 11 anos de idade, por exemplo, cuja mãe venha a morrer, poderá ficar um pouco mais deprimida na idade adulta — mas não muito, e só se for mulher”; por outro lado, como o amor entre pais e filhos nasce e amadurece pelo convívio, quanto mais velha for a criança adotada, maior será o risco do amor não se formar, de todo ou em parte.

As citações acima foram extraídos das páginas 85 e 86 do livro Felicidade autêntica de Martin E. Seligman, Ed. Objetiva, 2004.

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sábado, 3 de janeiro de 2009

VIOLÊNCIA SIM, AMOR NÃO?

“Matei um homem, e a maioria das pessoas compreende e me perdoa. Porém amo um homem e muitas pessoas consideram que é um pecado imperdoável, que isso faz de mim uma pessoa má.” Este texto compõem a autobiografia em que o hexa-campeão mundial de boxe Emile Griffith admite seu homossexualismo. O homem que ele matou foi o cubano Benny “Kid” Paret que o chamou de maricón, o equivalente em castelhano para bicha, antes de uma luta pelo título mundial. “No 12° assalto, Griffith atingiu 21 golpes consecutivos em Paret, que àquela altura já tinha metade do corpo para fora do rinque e se mantinha em pé graças somente à segunda corda. O cubano caiu, entrou em coma e morreu dez dias depois”. Os textos entre aspas são do artigo “Os dois mundos de um campeão de boxe” publicado em 28/12/2008 na Folha de São Paulo à pág. D5.

À luz do humanismo fica difícil aceitar que um homem possa ser perdoado pela morte de outro e não por amar outro, já a psicologia evolucionista tem uma explicação. Nossos sentimentos são mecanismos primitivos de preservação da espécie: uma de suas principais funções é valorizar bons e desvalorizar maus provedores e reprodutores. Grosso modo, admiramos pessoas fortes, hábeis e agressivas, como os esportistas, porque no mundo primitivo elas eram mais capazes de nos proteger, de caçar e coletar alimentos, e os bonitos e sedutores, como os astros e estrelas de cinema, porque eles nos passam uma imagem de bons reprodutores. Por isso, um macho-alfa que mata um rival é admirado, enquanto seu amor estéril por outro homem, reprovado.

É bom que fique bem claro que o fato de haver uma explicação para esses sentimentos, de maneira alguma, justifica o tratamento indigno ao homossexual, nem a morte no esporte.

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