
Para surpresa do padre, o consultório do articulista, que podia ser em qualquer lugar do mundo, é próximo de sua casa.
O livro "Dá trabalho ser feliz, mas vale a pena" (Ed. Sextante) é uma introdução simples e divertida à Psicologia Evolucionista.
Este blog continua explorando o assunto.
Artigo* publicado anteontem no New York Times alerta-nos de que a comida orgânica virou sinônimo de saudável, tem angariado uma multidão de fãs, mas o que realmente importa continua sendo nos alimentarmos bem. Marion Nestle, professora da Universidade de Nova York, afirma que “organic junk food is still junk food” que poderíamos traduzir livremente por “porcaria orgânica ainda é porcaria”. O que ela quer dizer é que um hambúrguer orgânico ― de pão feito com trigo plantado sem fertilizantes químicos e boi criado sem tomar hormônios ― engorda e entope as artérias de colesterol tanto quanto um hambúrguer comum. Pior, como já relatei anteriormente, o fato de estar comendo algo que acreditamos ser supersaudável pode nos levar a, inconscientemente, exorbitar na quantidade (lembre-se de que o auto-engano é um mecanismo de preservação da espécie eficiente para iludir nossa prudência perante ofertas alimentares e sexuais).
Na manhã do último domingo fui com meu filho de 10 anos assistir a uma partida de tênis entre os ex-campeões John McEnroe e Jim Courier e desliguei o celular conforme solicitado. No caminho de volta para casa, o garoto pôs-se a brincar de implicar comigo. Ao pararmos no próximo sinal de trânsito, revidei fazendo cócegas nele, que reagiu: “Pára pai, senão eu abro a janela e grito: Assédio Sexual”. Adverti-o de que este era um assunto sério demais para se brincar e pedi que telefonasse para a mãe avisando que estávamos a caminho. Em seguida, assustado, contou ter ouvido uma mensagem no celular dizendo para denunciar abuso sexual. Que estranho!
Domingo passado, o carismático jogador entrou em campo pela segunda vez depois de mais de um ano sem jogar se recuperando de uma delicada operação no joelho. Ficou pouco tempo em campo, mas foi suficiente para mostrar sua categoria: um chute de fora da área no travessão, um passe perfeito e, finalmente, um gol de cabeça. No dia seguinte, disse em um programa de tevê que estava três quilos acima do peso ideal. Um músico presente comentou que era fácil perder três quilos. Talvez para um gordinho qualquer, mas não para o Ronaldo!
O gordinho vai para um Spa, é submetido a uma dieta de pouco sal e seu corpo se desidrata (água pesa, é fácil de perder, e o Spa sabe disso). Depois, ao se exercitar, seu organismo compensa a pouca alimentação que recebe consumindo gorduras e músculos para gerar energia. Quanto mais fora de forma ele estiver e mais intensamente se exercitar, mais músculos e menos gordura perderá, porque músculos são mais facilmente metabolizados com pouca oxigenação (é o déficit de oxigênio que faz ofegar quem não está em forma). Uma semana depois, o gordinho sai do Spa pensando que emagreceu três quilos como mostra a balança. Na realidade, perdeu apenas uns 200 gramas de gordura; mais um pouco em músculos e a maior parte em água que voltarão assim que ele recuperar seu tônus muscular e hidratação. Quando o Ronaldo Fenômeno diz que precisa perder três quilos, são três quilos de gordura, só gordura, pois um atleta profissional não pode ficar desidratado, nem perder musculatura. Mas vamos supor que o gordinho faça tudo correto, mantenha-se hidratado, faça dieta e exercícios leves, muita quantidade com pouca intensidade (para não sofrer déficit de oxigênio), e consiga perder 3 quilos exclusivamente de gordura. Ainda assim, são casos muito diferentes. Um gordinho de 100 kg e 30% de gordura corporal tem 30 kg de gordura, se perder apenas 10%, emagrece os 3 kg desejados. O Ronaldo, conforme revelou na entrevista, está com 10% de gordura corporal e pesa menos de 100 kg, mas supondo-se que pesasse 100 kg, para facilitar a comparação, teria 10 kg de gordura e precisaria perder 30%, uma enormidade, para emagrecer os mesmos 3 kg.
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A reportagem ― motivada pelo caso dramático de uma criança de 9 anos que, estuprada pelo padrasto, engravidou de gêmeos e foi submetida a um aborto legal ― relata que por ano no Brasil ocorrem cerca de 150 mil casos de abuso sexual doméstico (quando a violência é praticada por pessoas íntimas da vítima). O problema é complexo, admitindo várias abordagens, mas acredito que o número de vítimas cairia drasticamente se a população tivesse uma visão mais realista da natureza humana.
A idéia geral que se tem do estuprador de uma criança indefesa é a de que ele é um psicopata, um monstro. Não necessariamente. Enquanto as mães acreditarem que somente facínoras serão capazes de molestar suas filhas, como enxergar risco no convívio delas com o próprio marido, um tio ou amigo, homens com família, trabalho, etc? O estupro e a pedofilia ― com crianças já em idade fértil ― são instintos masculinos naturais. O fato de serem repudiados pela civilização não significa que, por força de lei, tenham sido erradicados do genoma humano. A verdade que a sociedade hesita admitir é que as jovenzinhas e o estupro também são excitantes para o homem socialmente produtivo, dito normal. Se parássemos de nos enxergar como o que gostaríamos de ser e aceitássemos melhor o que somos, naturalmente bem mais próximos do animal que do sublime, as mães seriam mais atentas aos mínimos sinais de erotização entre suas filhas pequenas e os adultos que as cercam, principalmente se estes consumirem drogas como o álcool que diminuem o autocontrole.
A explicação científica para comportamentos hediondos deve ser usada para nortear ações preventivas e, de forma alguma, para justificá-los ou abrandar suas penas; o respeito aos direitos humanos é um bem valioso demais para ser negligenciado.
Vamos relembrar a idéia básica da teoria da evolução. O DNA de uma célula embrionária é copia do DNA dos pais, 50% de cada. Se a cópia fosse sempre perfeita, não haveria evolução das espécies, pois nunca apareceriam novos genes. É preciso haver um erro no processo de cópia para surgir um gene inédito que poderá ser inoperante, acarretar uma má-formação fatal ao embrião ou ser funcional. Neste caso, quanto mais adequada à reprodução for sua função, mais chances terá o hospedeiro de gerar descendentes e passar esse gene adiante. Em contrapartida, genes que expressam atributos desfavoráveis à procriação desaparecem com a morte dos seres que não se reproduzem.
Esse processo que faz os genes mais favoráveis à reprodução se proliferarem, e não os menos favoráveis chama-se Seleção Natural e funciona para todas as espécies desde o surgimento da vida na Terra. É ele que nos assegura que todas as características de quaisquer espécies foram selecionadas exclusivamente por sua eficiência reprodutiva. Até a sobrevivência não é um fim em si, é apenas uma pré-requisito à reprodução, caso contrário, mães não arriscariam suas próprias vidas para salvar a dos filhos, como acontece em situações extremas.
O que Darwin apenas indicou, mas que agora esta sendo pesquisado e comprovado é que o aparato reprodutivo humano construído geneticamente pela Seleção Natural não se limita ao corpo e sua funcionalidade, inclui emoções, sentimentos, bem como nossa moral e ética. O que mostro no livro “Dá trabalho ser feliz”, e, aos poucos, também neste blog, é que a compreensão do evolucionismo ajuda a simplificar nosso cotidiano, torna mais fácil fazer dieta, exercícios, trabalhar, combater o estresse, namorar e até a constituir uma família mais feliz.
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