
Notícia do jornal “O Estado de São Paulo” de 27/12/2008 à pág. A10 diz que “por mais que não haja estatísticas oficiais, acontece com freqüência maior do que se imagina” a devolução de crianças durante o processo de adoção e até após a adoção ser efetivada, quando, em tese, seria irrevogável. Todos os casos relatados são de crianças com idades superiores a 5 anos. Especialistas no assunto, citados pelo jornal, atribuem o fenômeno ao despreparo emocional dos pais adotivos que esperam filhos dóceis e profundamente agradecidos e recebem crianças que exigem mais do que eles podem dar.
Na realidade, os pais adotivos também são vítimas de um processo que ignora os fundamentos mais elementares de nossa natureza. O filhote da espécie humana é, dentre todos os animais, o que mais demanda cuidados para sobreviver. O amor dos pais pelos filhos é uma necessidade instintiva da espécie humana. E o que caracteriza esse amor? Muito dar e pouco receber. O bebê não fala, não ri, mal se mexe e tem que ser alimentado e protegido, exaustivamente, dia e noite. A criança demanda cuidados enormes que considera obrigação dos pais e, nem ao menos, se sente grata pela dedicação que recebe. O adolescente é rebelde e vê os pais como uns perfeitos idiotas, o que é normal, pois faz parte do processo de construção de sua identidade. Em troca, os pais recebem um sentimento de felicidade, instintivo, quase inexplicável. Em que momento nasce e se desenvolve esse amor, sem o qual é quase impossível criar um filho? Não é no momento da concepção, nem na gestação, pois, se fosse, os bebês trocados na maternidade não seriam amados. Esse amor se constrói pela criação, desde o primeiro momento: a partir do instante em que um bebê nasce ou é adotado começa a se formar o amor dos pais, amor que já estará consolidado quando a criança estiver na idade de fazer maiores traquinagens ou ingratidões. Sem esse amor, tais atitudes serão insuportáveis.
Alguns juízes da infância e juventude têm por norma fazer o possível para que a criança fique com os pais biológicos, ou apenas com a mãe se o pai se escafedeu, como se o parentesco biológico tivesse um valor intrínseco pelo qual vale a pena sacrificar a criança. Quando, finalmente, desiste, vários anos se passaram e ela já está muito grande e traumatizada para conseguir uma adoção de qualidade.
Em nenhum momento, o artigo falou do amor como elemento essencial para criação dos filhos, a palavra “amor” nem aparece. Enquanto a questão da adoção não for repensada à luz da psicologia evolucionista, respeitando os sentimentos naturais da espécie humana, muitas crianças serão devolvidas aos abrigos ou, então, condenadas a viver numa família unida pela irrevogabilidade da sentença judicial de adoção e não pelo vínculo do amor.
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